Kreator

Gods of Violence
2017 | Nuclear Blast | Thrash metal

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Actualmente parece ser uma boa altura para se gostar de thrash. Nos últimos tempos o género tem vindo a arrebitar depois de ultrapassada uma fase de crise ali por meados dos anos 90, em que os principais artistas estavam a dar asas à criatividade por caminhos que não agradavam a todos. E isso tem-se vindo a notar quer nas suas novas formas e fusões quer em revivalismos que trazem uma boa dose de qualidade além da mera recriação de uma moda repleta de coletes a cheirar a cerveja.

E quando até os Metallica parecem andar a fazer umas cenas como já não faziam há uns bons anos, é porque algo anda diferente à volta deste género veloz e enraivecido, já de sua natureza.

Estamos a viver um tempo em que o que não falta é quantidade – sendo que esse parece ser o único problema que o thrash metal enfrenta neste momento, a demasia. No entanto, há também aqueles em quem podemos sempre confiar. E os Kreator são um expoente máximo desse exemplo. Já com três décadas e meia às costas, ainda são dos nomes mais icónicos do género, sabendo reinventar-se devidamente e mantendo agora a fidelidade a uma sonoridade contínua, que não estagna.

Após a sua fase experimental, ali entre o “Renewal” e o “Outcast“, os Kreator não se tornaram a banda veterana que lançava discos meramente competentes a cumprir com o seu som característico. Tornaram-se antes a banda veterana que anda décadas depois a fazer alguns dos seus melhores trabalhos.

Gods of Violence” não deixa dúvidas de ser isso mesmo. Um tremendo disco, do melhor que podia sair de uma já tão extensa discografia. Uma perfeita e completa lição de como descarregar tanta violência em riff, solos de respeito e um bom refrão que prenda e não renegue o uso da melodia sem tirar toda a agressividade que se requer. Temas que já se podem antever a ser cantados de punho erguido durante um enérgico concerto dos alemães, como se ainda não tivessem suficiente disso. É Kreator como os conhecemos mas com a sabedoria para justificar a audição deste álbum e não de um qualquer anterior. A isto juntam sempre algum ingrediente novo, e em “Gods of Violence” temos a introdução orquestral “Apocalypticon“, com mãos dos Fleshgod Apocalypse a ajudar, o uso de um elemento oriental com a sitar e a harpa – tocada por uma menina de 12 anos – na introdução da faixa-título, o acenar em tom de tributo ao heavy metal tradicional em temas como “Hail to the Hordes” ou “Lion with Eagle Wings” e alguns suportes progressivos no surpreendente épico que é “Death Becomes My Light“, faixa que termina o álbum.

Tudo isto interpretado por uma banda que sempre teve uma temática política presente no seu trabalho, aqui bem vincada pela mensagem directa e furiosa de “World War Now” ou no grito de protesto que é “Side by Side“, provavelmente influenciadas pelo actual clima bizarro e surreal que vivemos actualmente.

Se não há propriamente um mar de novidades, o que existe em abundância são razões para ouvir este disco muitas vezes e cada uma destas malhas, sem que alguma passe sequer perto do filler. Pode realmente haver muito thrash hoje em dia, não haver razão de queixa em relação a alguns putos que querem celebrar a glória da década de 80 nos dias de hoje, existir muito thrash na sua forma mais moderna a ganhar cada vez mais músculo e até muito veterano a fazer obras-primas de excelência e com uma perna às costas, se for preciso. Mas em nenhum desses casos se perdia nada se todos se sentassem e assistissem a uma aulinha de como se fazer isto com esta pujança toda, dada por estes veteranos germânicos.

Pode ser uma boa altura para se ser fã de thrash. Mas com certeza é uma boa altura para se ser fã dos Kreator. Que, por acaso, sempre foi.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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