Entrevista


Noiserv

Tudo mudou por a música existir.


© Vera Marmelo

Após um pequeno showcase de três músicas no sótão do Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, a servir de promoção ao concerto de celebração dos já 13 anos de carreira de Noiserv, tivemos oportunidade de falar um pouco com David Santos.

Em jeito de antevisão e numa viagem entre o passado e aquilo que poderá ser o futuro, convidamo-vos a fazer parte desta boa conversa.

Já lá vão 13 anos de carreira com Noiserv. Durante estes 13 anos quais podes dizer que foram os pontos mais altos? E menos altos?
Acho que os mais altos acaba por ser um bocado complicado. Acho que todos os concertos que correm bem. Claro que há concertos em salas maiores que à partida parece que são os momentos altos, mas eu acho que qualquer concerto desde que corra bem e que tu sintas que quem está a ver gostou do que viu… isso é um momento alto na carreira de quem toca.

Acho que é complicado distinguir ou separar alguns. Se calhar, quando toquei há muito tempo atrás no Super Bock Super Rock, em 2011, acho que ainda não era… não é que seja muito conhecido hoje em dia, mas era menos conhecido e de repente percebi que tinha uma plateia enorme à minha frente e havia muitas pessoas que não me conheciam. Ainda hoje em dia há muitas pessoas que me dizem: “Olha a primeira vez que te vi foi naquele concerto”. Não é que para mim seja um momento mais importante, mas senti que muitas pessoas me começaram a conhecer a partir daí.

Dos momentos mais complicados… Acho que fazer uma coisa em Portugal, de autor ou não, na questão da música e pelo menos numa onda mais alternativa, não há assim tanto público. Portanto, acho que momentos difíceis podem ser todos. Eu tenho tido a sorte de nunca ter tido uma desgraça, nunca houve nada que me desmotivou. Mas acho que sempre acreditei muito que era isto que queria fazer, portanto os momentos difíceis vi-os como coisas para atravessar. Não há aqueles momentos em que “É pá que horror!”. Isso nunca aconteceu.

Como é a tua interação com o teu público, de forma a contornar esse lado da tua música não ser tão popular e ser mais de nicho?
Acima de tudo a pessoa tem de ter a noção de que tem que ter alguma regularidade nos discos que vai fazendo. Eu mesmo assim acabo por ter discos de dois em dois anos ou três em três, que se calhar até é um período mais largo do que aquilo que devia ser. Mas a única coisa que posso fazer por mim próprio é chegar a um ponto em que estou satisfeito com as músicas que faço e tento sempre ser o mais sincero possível com aquilo que estou a fazer. Depois é esperar que isso seja suficiente para que as pessoas que já gostam continuem a gostar e para aquelas que não conhecem, se um dia ouvirem, poderem começar a gostar.

Não há assim nada que eu faça de especial, a não ser dedicar-me a isto da melhor maneira que consigo. Acho que isso é a única coisa que a pessoa tem na mão e que não deve de hesitar.

Durante estes 13 anos há algum momento que guardes especialmente?
Acho que é como te estava a dizer há bocadinho, eu acho que os concertos são sempre um momento especial porque é onde tu consegues chegar, ao vivo, com as tuas músicas às pessoas.

Falaste por exemplo no concerto no Super Bock Super Rock…
Sim, mas acho que esse foi tão importante como o primeiro em 2005 onde estavam muito poucas pessoas e que se calhar eu estava muito mais nervoso. Portanto, acho que seria injusto para todos os outros ao estar a escolher um momento, percebes? É o conjunto e muitas outras coisas que tornam isto no final numa coisa importante para mim.

Sei lá, por exemplo, o outro disco (não este último mas o anterior) que ganhou o prémio de melhor disco da SPA de 2013. Isso também é uma coisa boa, não é por ser um prémio, mas é por sentires que um disco que deu o trabalho que deu a fazer, alguém o avalia e o considera o melhor daquele ano em Portugal.

Sim, um reconhecimento do teu trabalho…
Isso são tudo coisas boas, mas não é por isso que no dia a seguir aquilo eu fiquei melhor ou pior. Acho que tudo são bocadinhos ou migalhas que vão somando a essa luta para que isto aconteça sempre.

Como consideras que Noiserv te fez evoluir tanto em termos pessoais como musicais?
Em termos pessoais, eu vinha de uma carreira de engenheiro. Quando dei o primeiro concerto estava ainda a fazer o trabalho final de curso na faculdade, depois comecei a trabalhar como engenheiro e portanto há aqui uma mudança a nível pessoal muito muito grande que é: estar a estudar e a tocar ao mesmo tempo, depois começar a estar a trabalhar e a tocar ao mesmo tempo e depois ir para a faculdade com uma bolsa de investigação (para conseguir ter horários um bocadinho mais flexíveis) e continuar a tocar ao mesmo tempo e chegar a um ponto em que consigo estar só a tocar. Portanto, a nível pessoal se a música não existisse tudo isto seria diferente. Eu se calhar morava noutro sítio, a minha vida ia ser diferente e acima de tudo a minha cabeça e a minha maneira de ver as coisas seria diferente. Porque tinha um trabalho, se calhar, muito mais chato do que este, das 9 às 5, se calhar seria mais frustrado do que sou. E portanto acho que pessoalmente, tudo mudou por a música existir.

A nível de músico, nestes treze anos, passei de apenas tocar guitarras desde os 14 ou 15 anos para começar a experimentar uma série de outras coisas e, apesar de não ser um virtuoso em nenhum instrumento, tenho uma noção muito melhor do que é acima de tudo fazer uma música, do que é que são os arranjos que quero para uma música. Sabia o que gostava de ouvir, mas não sabia como é que o conseguia fazer. Hoje em dia acho que já há um equilíbrio maior entre aquilo que quero ouvir e a forma de como o fazer. Já sei como é que se faz.

…tornou-se mais orgânico.
Sim. E mais intuitivo também chegar a um ponto de satisfação.

Noiserv ©Vera Marmelo

©Vera Marmelo

Em relação ao concerto aqui no Tivoli BBVA, o que quem vem ver pode esperar? Tens alguma surpresa preparada?
Ainda estou a pensar e a tentar perceber como é que um concerto pode resumir os tais 13 anos. E portanto, não é que vá tocar as músicas todas, mas os concertos vão acontecendo e há músicas que vão ficando de fora. Há músicas que já não toco se calhar desde 2007. Portanto, não digo todas essas, mas gostava que o alinhamento fosse uma viagem por essas músicas todas. Não vai ser possível tocar todas, mas se calhar vou tocar umas antigas que já não toco há muito tempo. Tocar umas mais novas que nunca toquei, mais novas não novas, mas dos discos mais actuais que nunca calhou tocar. Acho que podem esperar acima de tudo um concerto das minhas músicas em que espero conseguir tocar o máximo de músicas que me façam sentido.

A ideia é pegar um bocadinho em muitas músicas.

E em termos de espectáculo? Vai haver algo em especial?
É assim, tenho algumas ideias, mas ainda nada em concreto para dizer e que depois afinal podem não acontecer. Portanto, prefiro não dizer nada.

Em relação ao futuro, estás a preparar um álbum novo?
Sim, tenho andado aos bocadinhos a tentar fazer pequenos rascunhos. Acredito que, depois deste concerto de dia 5 e de mais alguns que tenho em Abril terei mais tempo para pensar nisso. Não vou parar por completo, mas vou ter um bocadinho menos de concertos e portanto vou conseguir focar-me nessa ideia de um disco novo, grande parte deste ano será nesse processo. Mas como ainda não me dediquei muito, também ainda não sei bem para quando é que será ou não será. Mas este será o ano de o fazer, agora se é o ano para o editar ou não é que ainda não sei bem.

Disseste que os próximos concertos são em Abril…
Sim. Tenho em Abril e algumas coisas em Maio.

Vais tocar onde?
Tenho em Maio em Estremoz dia 5 de Maio. Depois tenho em Abril em França e no Luxemburgo de 7 a 21, acho eu. Depois também tenho umas coisas em Junho, mas aí já são mais… também vou aos Estados Unidos, mas aí são coisas mais esporádicas. Portanto acho que vou ter mais tempo. Também estou a acabar uma banda sonora de um filme, que devo finalizar dentro de duas ou três semanas. Portanto, tudo se conjuga para que depois fique mais livre.

Estás a planear tocar mais lá fora?
Não sei. Os mercados em que tenho conseguido tocar mais têm sido França e Alemanha. E nesses dois países também já toquei muito do disco anterior. Portanto acho que todos eles estão agora numa altura em que é preciso um disco novo para lá regressar e à partida irei mesmo conseguir parar um bocadinho, sim.

 

Noiserv actua no próximo dia 5 de Abril, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, numa noite que terá início às 21h30 e cujos bilhetes se encontram à venda nos locais habituais, com o valor a variar entre os 10€ e os 15€.

sobre o autor

Joao Neves

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