Reportagem


Jeff Rosenstock

Todos os momentos mágicos não esquecidos

Sabotage Club

16/09/2018


Quando, na passagem de ano de 2017 para 2018, Jeff Rosenstock lança Post- no mundo, sentimos no nosso âmago que o resto do ano de lançamentos estava comprometido. Agora, em Setembro, continuamos a achar que o terceiro longa duração da carreira a solo terá que constar do nosso top 10. Em primeiro lugar? Seria um inequívoco “sim”, mas depois Spiritualized apareceu com um novo álbum e complicou a decisão.

As expectativas eram altas. Não é um sentimento generalizável porque 1) era um domingo e 2) toda a gente e o cão doméstico estavam na Altice Arena a ouvir uma banda irlandesa.

Às 22h30 o público estava pronto para receber o músico de Long Island. Problema: ainda estava a fazer fila à porta do Sabotage. A certa altura Rosenstock e comitiva passam por nós, acenando alegremente e cumprimentando a fila antes de tirarem uma foto com o telemóvel.

Está certo, então. Há que reajustar expectativas.

São, finalmente, as 23h10 quando a banda toma a sala dos Cais do Sodré. “Olá,” grita alta e longamente Rosenstock antes de confessar que não fala uma palavra de português. Contámos três, “olá”, “obrigado” e “Lisboa”. Rosenstock haveria de as repetir em todas as combinações possíveis ao longo da hora de concerto. Há uma outra, mas já lá vamos.

“USA,” de POST-, arrancou a locomotiva de loucura. Seis minutos de canção com um outro que se eterniza nos versos “we’re tired and bored” que foram cantados como se o set estivesse a acabar. Diga-se de passagem: tanto quanto nos foi dado a acreditar há cerca de 30 pessoas que sabem as letras de Rosenstock na ponta da língua. E estavam todas ali. Não, não eram amigos, nem um grupo concertado. Isso é impossível. Agarrem em 10 dos vossos amigos: quantos sabem o que é um Jeff Rosenstock? Exacto. Não, ilustres desconhecidos, no máximo aos pares, decidiram reunir-se ali para escangalhar cordas vocais e não há, na vida, nada mais bonito.

Quanto ao homem do momento, Jeff participava da loucura com grande proximidade. O nosso talentoso fotógrafo sentiu-o na pele quando, segurado pela nuca, viu de perto o americano cantar-lhe directamente para a cara. O momento de maior contacto viria no fim do concerto quando o músico alcandorado a salvador flutuava pelas mãos do público. A prova da entrega estava na encharcadíssima t-shirt dos The Who que vestia. O jovem de 36 anos suou tanto que aquilo que ao início nos pareceu uma farta cabeleira, apesar das entradas, já não existia no fim.

E por falar nos The Who; é sempre um espetáculo interessante ver músicos que tocam os seus instrumentos com a vivacidade de quem os odeias. Jeff e o baterista epitomizam esta atitude. Já os restantes, eram mais relaxados, incluindo o aniversariante baixista.

’Como se diz “oopsie daisy” em português?,’ perguntava depois de um pequeno percalço. “Foda-se! Espero não ter dito nada de mal.” Nem pensar nisso. “Isto é muito divertido, obrigado por terem vindo curtir connosco,” era o agradecimento que anunciava o fim.

Curto e intenso, sem pretensiosismos e mais punk do que seria de esperar para um concerto que envolve tantas letras sobre desilusão e tristeza. Supomos que haja muita inconformidade ao escrever sobre esses temas com um sorriso. Ao alinhamento acrescentaríamos alguns outros temas de Post – ( afinal o título do álbum dá nome à digressão), mas entendemos que na primeira vez que vem a Portugal haja que agradar aos que já o esperavam desde o primeiro registo. Em todo o caso, teria sido uma desilusão sermos privados do solo de saxofone em “We Begged 2 Explode.”

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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