Reportagem


The Twilight Sad

Um crepúsculo de calor

NOS Primavera Sound

07/06/2018


Vêm da Escócia e parecem-nos perpetuamente tristes. Uma contradição para uma banda com efémero nome The Twilight Sad.

Na edição de 2017 do NOS Primavera Sound falávamos da importância destes festivais e de conhecer bandas cujo nome nunca tínhamos ouvido falar. Este ano o primeiro exemplo que temos são estes crepusculares rapazes. Os escoceses que se sentiram em casa graças ao tempo e trouxeram as suas influências post-punk e shoegaze de mangas arregaçadas. Noutros momentos, ouvíamos The Smiths e os conterrâneos Glasvegas – uma daquelas promessas do indie dos anos 2000 que nunca se concretizou – e deixámo-nos levar pela poética de rua das canções e pelos maneirismos de James Graham.

A figura em t-shirt da adidas, de cabelo rapado, com peladas aqui e ali era um elemento de entropia dançante que por vezes gritava expletivos do vernáculo longe do microfone. Não raras vezes ocorreu-nos que agia como se ouvisse a voz de alguém que não estava realmente ali e tanto bateu na cabeça que o vermelho do sangue que se formou atrás da orelha já era visível.

O jovem de preto parava-se a si mesmo apenas para olhar para o público com quem se esquece de que está em palco a ser observado. Os olhos eram de quem não acreditava no que via e os agradecimentos de quem sentia o que dizia e não dizia mais porque sentia demasiado.

Foi um concerto curto do qual destacaríamos a porção final com “I Became a Prostitue” e “And She Would Darken the Memory”.

“Hey, Porto. I just wanted to say, from the bottom of my heart, thank you for coming to see our band.This is our last song – this is for our friend Scott.”

O Scott, é Scott Hutchison, dos “Frightened Rabbit”, falecido a 10 de Maio de 2018 depois de nos deixar com a mensagem “Please, hug your loved ones. I’m away now. Thanks.”

Estamos na dúvida quanto ao melhor concerto deste primeiro dia. Mas sabemos o seguinte: o que queremos dos músicos é mais do que canções bem interpretadas. É que nos façam sentir alguma coisa. Quando James Graham se entrega a “Keep Yourself Warm” a frase “it takes more than fucking someone to keep yourself warm” é como uma ferida que dói para sempre a voltar ao de cima. Quando pára para contemplar toda a gente e se deixa levar pelas lágrimas é unguento.

Não temos piadas irónicas, nem chico-espertimos para saber lidar com tudo isto.

https://youtu.be/Qgm-CcA69aA

É o concerto que vamos sempre recordar quando falarmos deste dia.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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