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Violinos, baixo e um colete refletor. Junta-se uma pitada generosa de hip-hop confessional e temos um forte concorrente a melhor concerto do primeiro dia do NOS Primavera Sound logo desde o início.
Tyler surge em palco como um louco que acaba e fugir às mãos que o seguravam. De colete fluorescente e cabelo às manchas, o Criador parece a progenitura blasfema de um funcionário da Junta Autónoma de Estradas e do Dennis Rodman*. Quando a primeira nota de baixo cai, fazendo meio Primavera passar por uma segunda puberdade, o concerto está oficialmente lançado e o ímpeto nunca mais esmoreceu.
Um artista que se diverte em palco é meio caminho andado para fazer render uma audiência que não se rogou a cantar desde o princípio os versos “ I Rock, I Roll, I bloom, I grow” com o rapaz das flores. “Who Dat Boy” e “November” teriam direito a acompanhamentos semelhantes. Tyler, pelo seu lado, dançava caoticamente, puxava estridentemente pela voz e soltava gargalhadas eufóricas. Umas, talvez pela incredulidade em ver aqueles devotos afinados, outras, como quando ao agradecer com “Gracias” se apercebe dos apupos e cobre o rosto com a expressão “I done goofed”. Águas passadas. Numa das bancadas, o texto fluorescente com a frase “Made in Barcelona” também nos confundiria.
“Some of You know me from ‘Flower Boy’”, assumia, “but Imma do some old songs.” (Pausa para aplausos.) “This is … whatever just play it.” E directamente de 2013 a crueza emocional de “IFHY” trouxe-nos Wolf ao NOS Primavera Sound. Haverá alguém que não se deixe levar pela vulnerabilidade hardcore das palavras de Tyler? Pela nossa alminha, é este o segredo do espetáculo ao vivo do rapper: um escape emotivo que o conteúdo dos temas permite, protegido pela forma que nunca deixa que seja lamechas. Há também referências múltiplas a pila, portanto, é levar estas palavras com uma graminha de sal.
Em “Glitter”, ao palco, desce um céu estrelado e um espetáculo visual que coloca Tyler como peça central de um construção cósmica. Apercebemo-nos que não estamos a saber lidar com toda esta montanha russa de sentimentos quando nos apercebemos que já vai em 10 minutos o sorriso idiota que temos estampado na cara. Olhando à volta, não estamos sozinhos. Quando “See You Again” prenuncia o fim do concerto, a voz do público irrompe outra vez e entoa os versos ao comando das deixas que vêm do palco.
No fim, queda-se em frente ao palco uma multidão que não quer que o espetáculo acabe. As câmaras apanham uma moça eufórica na fila da frente. Mais tarde ouviríamos “zunzuns” de que o artista lhe teria pedido o “handle” do Instagram.
Senhoras e senhoras, Tyler, The Creator, um artista do ano 2018 a dar ao público o que ele quer.
*+ 1 para a piada do Jornal de Notícias que é bem melhor que a nossa.