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As recentes nomeações de Moonlight para os principais galardões de cinema só serão uma surpresa para quem não viu o filme. A melhor comparação possível, invocando um passado recente, é com Boyhood, sendo que aqui Barry Jenkins acaba por nos dar muito mais do que o crescimento e evolução de um miúdo negro ao longo de três fases distintas bem definidas. Nota-se um cuidado especial na realização, através de planos fechados e fotografia excepcional, que acaba por completar o retrato que o realizador pretende passar de um bairro de Miami.
Moonlight podia ser só um filme acerca da dura realidade de um bairro problemático, como podia ser só a história de Chiron, que vai percebendo como é viver num ambiente duro com uma sexualidade considerada desviante, mas não só consegue passar por ambos estes pontos como ser muito além disso. A questão da identidade é abordada ao longo dos três actos do filme, marcados pelos diferentes nomes pelos quais a personagem central é conhecida, através das relações que Chiron – interpretado particularmente bem por um actor diferente em cada uma das fases – tem com pessoas relevantes na sua vida. A realidade é a mesma em todas as fases, as alterações acontecem todas na personagem que seguimos, através de conflitos internos e externos que este nos passa maioritariamente através de silêncio e de linguagem corporal.
Torna-se impossível não referir ambos os actores que viram as suas prestações recompensadas com nomeações a Oscar, Mahershala Ali e Naomie Harris que interpretam, respectivamente, Luan e Paula. O primeiro é uma das personagens mais influentes na vida de Chiron e também aquele que protagoniza alguns dos momentos mais marcantes no filme, representando uma espécie de luz na vida de uma personagem que não tem nada a seu favor. Paula acaba por ter o papel oposto na história, como mãe de Chiron e um dos principais elementos desestabilizadores na vida deste. Os diálogos que são construídos ao longo das três fases são preenchidos com os planos próximos que Barry Jenkins escolhe, assim como a constante movimentação e a rotação da câmara que surgem como apenas mais uma agitação numa realidade tão desinquietante.
Há cenas marcantes que retratam perfeitamente os dois tópicos principais do filme e que marcam também a evolução da personagem principal. Por mais transformações que aconteçam, não há uma evolução natural rumo a um final feliz. Estamos sempre a ver uma personagem que se vê obrigada a lutar contra aquilo que é, procurando formas de conseguir chegar ao fim de cada um dos seus dias sem nunca parecer ter um rumo. Quanto mais alheio ao ambiente envolvente está, maior é a luta interior contra a sua própria identidade e é também essa realidade que Barry Jenkins pretende retratar.
Moonlight é um dos grandes filmes deste ano, merecendo o reconhecimento que tem agora a nível de nomeações para Oscar. Trata-se de um filme que se podia focar num bairro problemático ou no tema da homossexualidade, mas que pretende ser muito mais do que isso. Dado o toque bastante pessoal que demonstrou aqui a nível de realização, Barry Jenkins é um realizador que será seguido certamente com bastante interesse nos próximos anos.