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Entre 1986 e 2002 existiu em Portugal uma Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses que tinha por principal função preparar, organizar, e coordenar celebrações relativas aos descobrimentos portugueses do século XV – entre os quais se incluíu, ainda que acessoriamente – por posterior -, a chegada dos portugueses a Nagasaki, no Japão, em 1543 e, connosco, a evangelização.
Não é por acaso que o filme de João Mário Grilo, produzido por Paulo Branco e estreado em 1996, no Festival de Locarno e revisto, vinte anos depois, no passado dia 6 de Fevereiro de 2017 no Espaço Nimas, inicia com o mar e a imagem de quatro jovens japoneses na praia, tanto ponto de partida como porto de chegada. Os Olhos da Ásia são Julião Nakaura, Miguel Chijiwa, Martinho Hara e Mâncio Ito, todos membros da Embaixada Tensho, que no início do filmes vemos em novos, estudantes jesuítas, entusiasmados com o facto de serem os primeiros japoneses enviados ao mundo, à Europa e ao Papa.
Simultaneamente janelas da alma nipónica e testemunhos/as do Cristianismo, só nos voltam a ser mostrados diversos anos mais tarde já no momento da perseguição Cristã, cada um deles desempenhando uma função diferente, no mundo, perante o Cristianismo, como no filme, que acabará por se focar essencialmente em Miguel e Julião, capturados em diferentes momentos pelos representantes locais do shogun (titulo militar atribuído pelo imperador àqueles que actuavam como ditadores feudais, exercendo uma espécie de administração local durante o Período Endo, durante o qual foi banido o cristianismo) e colocados perante o dilema da fé da apostásia, cada respondendo de forma diferente.
A história destes Príncipes de Nagasaki é contada em paralelo com o regresso de Jane Powell (personagem interpretada por Geraldine Chaplin – sim, um dos 11 filhos de Charlie Chaplin), reenviada pela Europa a Nagasaki, onde passou a infância durante o período de reconstrução da cidade pós bomba atómica. Sim, é a mesma Nagasaki que nos é mostrada em períodos tão diferentes da sua história por João Mário Grilo, revelando (como havia de referir na conversa que sucedeu esta sessão) “o fio que atravessa a história”, a presença do passado no presente e os seus reflexos no futuro. A perenidade das instituições e da fé inabalável pela história, opressão ou bomba-atómica (Incessantemente balança o berço / que une o Hoje e o Amanhã. Walt Whitman).
Mais do que uma prequela ao Silêncio de Shusako Endo, ou uma história sobre fé e martírio, Os Olhos da Ásia são um riquíssimo documentário histórico sobre o diálogo intercultural luso-nipónico, e as marcas do cruzamento na história de ambos os países.