Bill Paxton: Um homem decente

por Bruno Ricardo em 26 Fevereiro, 2017

No dia em que acontecem os Óscares, lembramo-nos que não é preciso qualquer prémio para que um actor nos fique na memória: a morte de Bill Paxton, aos 61 anos, leva uma das caras mais emblemáticas da iconografia cinematográfica dos anos 80: é a única pessoa que detém a distinção suprema de ter sido morto por um Alien, um Predador e um Exterminador. Outros actores menores incomodar-se-iam por serem lembrados desta forma. Paxton deixava-se encher de entusiasmo por ser um ícone geek e contava como até grandes vedetas o viam como esse ícone. Tom Cruise, uma vez cruzando-se com ele, pediu-lhe que repetisse a viciante “Game over, man, game over” com que o soldado Hudson de Aliens (um dos seus papéis de charneira) recebe as más notícias na obra de James Cameron.

A carreira de Paxton, no entanto, é longa e variada e o actor era uma daquelas faces que, aparecendo no ecrã, nos davam a certeza de que o entretenimento era garantido, pelo menos. Desde obras mais pipoqueiras como Twister e True Lies até outros belos filmes que poucos lembram como A Simple Plan ou Frailty, uma característica transparecia de imediato: a decência, mesmo em papéis com alguma canalhice ou moral questionável. Penso que só Tom Hanks, aliás, o bate neste aspecto como a encarnação da decência humana num ecrã de Cinema, da fragilidade de uma pessoa, da simples vontade de querer ser um homem bom, uma pessoa decente. Em Tombstone, é um dos irmãos de Wyatt Earp e paga com a vida essa ideia. Tão apto em comédia como em drama (e se duvidam, vejam a maneira longa como constrói o seu personagem na série Big Love), a sua versatilidade é hoje louvada por companheiros de trabalho de maior nomeada como Tom Hanks ou Charlize Theron, que reconheceram nele o que o espectador sempre viu: um excelente actor.

A marca maior do seu desaparecimento é que, pelo que conta uma grande maioria de fãs e colegas, Paxton era um dos raros bons tipos em Hollywood, a tal decência que projecta nos seus papéis era real e natural. O homem que foi vampiro e soldado, que num videoclip foi arrastado pela realizadora Kathryn Bigelow numa mota, que desceu até ao fundo do oceano num submarino com o seu grande amigo James Cameron, era o melhor naquilo que muitos de nós tentamos fingir qualidade: ser um bom ser humano; e isto não se finge, nem mesmo por um actor tão bom quanto Paxton.


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Bruno Ricardo

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