Entrevista


The Weatherman

É importante que cada ouvinte interprete as coisas à sua maneira. Não quero condicionar os ouvidos de ninguém.


© Morsa

No mundo da música é o The Weatherman e com o novo álbum Eyeglasses For The Masses já conseguiu chegar ao terceiro lugar do top A3.30 da Antena 3. Mas esta é só uma das conquistas conseguidas nestes últimos dez anos de carreira pelo Alexandre que, em conversa com o ARTE-FACTOS, falou sobre o novo disco e sobre o seu percurso até agora na música.

Alexandre, o mundo da música já não é propriamente novidade para ti. Com dez anos de carreira, procuraste neste novo disco uma identidade diferente da música que fazes ou optaste pelo mesmo registo dos outros álbuns?
Procurei ser “natural”, procurei ir ao âmago, resolver-me o melhor possível quanto àquilo que eu sinto ser o “meu som”. Acho que procurei uma identidade própria para o disco de forma a que se sentisse que estamos num “lugar” ao ouvi-lo.

Onde é que vais buscar a inspiração para cada trabalho e, já agora, para este em específico?
Escrever música é como mover montanhas. No fundo, o acto de criação é algo que não se consegue explicar por ser tão interior. Penso que acabam por ser várias coisas que vêm ter comigo e me encaminham. É como procurar pistas que o ar me traz e depois tentar juntar tudo o melhor possível. Este disco não teria existido se não tivesse havido um percurso para trás e isso é que é interessante. Enquanto no primeiro álbum apenas se tratava de “liberdade musical”, agora já sinto que tenho que transmitir um certo tipo de mensagens através da música.

“EyeGlasses For The Masses”, é assim que se chama este quarto disco da tua carreira. Porquê o nome?
É um nome que sempre esteve na minha cabeça.  Creio que o que me inspirou para este disco foi a forma como vejo as pessoas actualmente, sempre na linha algures entre a desilusão e a esperança. Daí a capa com o olho e o título.

Qual foi o mote para a composição dos temas?
Varia de música para música, mas de um modo geral penso que por um lado falam de amor, no sentido em que as rupturas e a instabilidade emocional são poços inesgotáveis de inspiração para fazer o mundo correr. Por outro, falam da forma como vejo as pessoas actualmente; há uma certa desilusão na forma como vejo certo tipo de coisas a acontecerem no mundo que em pleno século XXI não deveriam acontecer. Por exemplo, a forma como toda a gente se deixa corromper. As pessoas crescem com a noção incutida de que para se conseguir alcançar objectivos é preciso jogar sujo. Então, joga-se sujo em quase todos os sectores da sociedade. Quem não joga sujo é relegado. Na música vê-se muito disso.

©Morsa

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O nome do álbum – “EyeGlasses For The Masses” – remete também para o título da quinta faixa deste disco, sendo que são onze músicas ao total. Que história é que este tema nos conta?

O interessante dessa faixa é precisamente o facto de não precisar de ter uma letra para comunicar algo. Tentei precisamente espelhar esse sentido de desilusão/esperança e acho que consegui.

Há alguma mensagem específica que queiras deixar às pessoas com este novo álbum ou são várias as mensagens que podemos reter?
Nesse aspecto gosto sempre de não contar tudo. É importante que cada ouvinte interprete as coisas à sua maneira. Não quero condicionar os ouvidos de ninguém.

Tu és o The Weatherman mas não estás sozinho. Por detrás deste disco podemos encontrar nomes como Nuno Melo (no baixo), João Nuno Almeida (na bateria) e o Alexandre Almeida que é co-produtor do álbum. Como chegaste a estas pessoas?
Comecei a tocar com o Alexandre Almeida há cerca de dois anos. A afinidade musical entre nós levou a que as colaborações  acontecessem naturalmente. Da mesma forma cheguei aos restantes membros. É fixe quando encontras as pessoas certas para trabalhar sem as procurar, é como se o universo conspirasse para que tal acontecesse. Ao longo dos anos tenho colaborado com muitos músicos, todos eles muito bons e grandes admiradores do meu trabalho, o que é reconfortante.

Embora portuense, o teu percurso musical não tem sido feito só a nível nacional e já estiveste na Holanda, Bélgica e Alemanha. De que forma é que isto enriqueceu a tua carreira musical?
Deu-me uma perspectiva mais ampla das coisas, fiquei a perceber melhor como funciona o showbizz e não é de facto algo que me agrade totalmente. O lado bom foi que percebi que artisticamente tenho as condições todas para ser bem sucedido, sobretudo fora de Portugal.

Como é que caracterizas a experiência de fazer o que gostas mas lá fora?
Dessas experiências tentei usufruir ao máximo dos lugares, dos momentos e das pessoas em vez de me sentir pressionado a por exemplo fazer amizades por conveniência. Deixar as coisas acontecerem como é suposto acontecerem e divertir-me pelo meio.

“Calling All Monkeys” é o single mais recente e também o responsável por chamar a atenção para este teu último disco. No videoclip, vemos um robô que é encontrado por um macaco e que nos explica como é que a Humanidade foi extinta do planeta. Podemos ver aqui uma caricatura ou mesmo uma crítica à realidade do mundo em que vivemos?
De novo, prefiro que sejam as pessoas a interpretarem as coisas à sua maneira. Mas que há aí material para pano para mangas, há…

Depois destes dez anos a ser o Weatherman, como é que vês o futuro da tua carreira na música daqui para a frente?
Não sei, é uma total incógnita. Pode acabar tudo amanhã e se isso acontecer não acaba mal, porque há muito boa música para descobrir em quatro discos. Posso acordar um dia destes e fazer mais um disco… nunca se sabe.


sobre o autor

Sandra Faria

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