//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Acho que uma das grandes revelações musicais de 2016, pelo menos para mim, foi o novo álbum de Bon Iver. Escolhi esta porque foi uma das primeiras que ouvi do disco. Uma produção muito mais focada numa eletrónica estranha como base e menos na guitarra e voz como era habitual.
Outra grande mudança de sonoridade! Estávamos já numa fase final de gravação quando o Luís me mostrou esta música. Fiquei muito impressionado porque também não era o que estava à espera dele.
Um artista e produtor que já admiro há muito tempo e que conheço muito bem. Não adorei o álbum todo mas esta é sem dúvida das minhas preferidas!
Não conhecia trabalhos anteriores do Vince Staples e o que me chamou a atenção foi o facto do James Blake estar envolvido na produção do último EP.
A Margarida deu-me o último disco dela recentemente. É um grande álbum e destaco esta porque o Sampha também entra nela e eu gosto imenso da sua voz.
Ainda não tinha picado a segunda temporada de Rick and Morty e acabei por a despachar toda neste fim de semana. A versão da Hurt dos Nine Inch Nails aparece num dos episódios e, bem, agora aqui.
No início de cada semana costumo sempre dar uma vista de olhos às músicas que o Spotify me sugere e nesta acabei a recordar o punk rock dos Propagandhi e o único álbum que conheço deles, o Potemkin City Limits.
A chonice do Ryan Adams tem-me acompanhado regularmente neste início de ano, até porque o Prisoner é um disco do caraças. E quando assim é, toda a chonice vale a pena.
A espera para rever Russian Circles (que felizmente nunca é assim tanta) terminou na passada sexta-feira. A banda continua a encher as salas por onde passa em Portugal e a verdade é que não há como enganar, vale sempre a pena.
Um dos meus discos preferidos do ano passado ainda continua a ganhar pontos em 2017.
Em semana de despedidas da nossa Cláudia Filipe, as escolhas não refletem o que foram os últimos dias, mas sim canções que, de uma forma ou de outra, nos ligam. Ao longo dos anos partilhamos listas, palavras sobre concertos, concordamos e discordamos. Poderiam ser centenas de músicas, ficam aqui cinco exemplos.
Esta é porque na primeira vez que nos cruzamos a Cláudia tinha vestida uma t-shirt do Blood Mountain. Mas não se assustem que a menina não tem só barulho no seu coração.
Ainda há poucos dias atrás a Cláudia fez questão de me relembrar desta. Em 2007 os Arcade Fire pareciam um daqueles grupos únicos, acima de quase todos os outros. Infelizmente hoje todos sabemos que não é bem assim. Apesar disso, esta canção – a melhor do disco – não perdeu um pingo de intensidade. Ok, não vou mentir. Também escolhi esta porque o nome do disco é praticamente um anagrama para a palavra NEOLIB.
Porque é uma das melhores da década passada e gostamos os dois dela. Não partilhamos mais nada. Ela viu-os em Paredes de Coura e eu não.
A Cláudia tem o desplante de conseguir escolher entre os discos dos “Quatro de Liverpool” e indicar um favorito. Diz que é o Abbey Road. Eu como não consigo ser tão definitivo, e só para contrariar, vou escolher esta que apesar de não ter jeito nenhum reproduz uma máxima importante. A vida continua.
É verdade. A alma leonina da Cláudia é muito mais reconhecida que a minha, no entanto também eu escondo cá dentro um gatinho selvagem. Pena que só tenha sabido escolher o clube português, já que noutros campeonatos tem péssimo gosto. Juntem-se todos a nós, e celebremos – já que eu e ela raramente o podemos fazer – à nossa maneira.
Terceira vez a ver Russian Circles e, passados cinco anos desde a última, está tudo na mesma – no bom sentido. O material mais recente resulta ao vivo, mas o gosto pessoal continua a pender para “Empros” e anteriores. Não podia faltar um clássico do trio de Chicago, “Harper Lewis”; contém tudo aquilo de que gostamos neles: bateria irrequieta de Dave Turncrantz, o engenheiro maquinista da banda, baixo musculado de Brian Cook e o rendilhado guitarreiro de Mike Sullivan. Tudo a manter o gosto, sem derrapagens no azeite de muita coisa pós-isto e aquilo. Voltem sempre, com ou sem “Lisboa” no alinhamento.
Abrindo para Russian Circles, os Cloakroom saíram subitamente da zona de conforto post-hardcore/shoegaze/etc. e presentearam-nos com a sua (belíssima) versão desta canção intemporal dos Songs: Ohia, primeira encarnação em forma de banda de Jason Molina – desaparecido há quase quatro anos. Cume sónico da sua carreira (nem que seja pelo volume), demanda épica de um cantautor e banda que se traduz numa canção genuína em todo o seu esplendor, que tanto soa bem nos setentas do Tio Neil, em 2003 ou em 2017, pelo amplificador de outrem. Despediu-se a banda de palco, com coincidente despedida de relevo de membro da equipa desta webzine – Godspeed, C.! Apropriados versos para o que se passou no RCA: “The whole place is dark / Every light on this side of the town / suddenly it all went down.”
Neste tempo em que o fado virou world music e de experiências com orquestras ao vivo (que bem que resultam com Camané), relembra-se um álbum conceptual à portuguesa, nos seus quarenta anos: “Um Homem na Cidade”, dedicado a Lisboa, que já o merecia. Por afeição à zona selecciona-se este fado, composto pela dupla de luxo António Victorino de Almeida e Ary dos Santos e tocada por Chainho, Vieira Nery e Nóbrega. Não é só a casa da infância de Victorino de Almeida que é imortalizada, mas sim todas as casas de Lisboa, do bulício do Campo Grande à espuma da história de Alfama. Um disco iconoclástico, de melodias novas e francas para o tempo, num momento de viragem da música portuguesa. Que Carlos do Carmo continue a ser o homem na cidade, sem dores na voz.
Em boa hora regressados, os LCD Soundsystem continuam a mostrar o porquê de serem uma das mais importantes bandas deste século. Influentes a rodos em banda e na sua DFA, deixam-nos aqui “All My Friends”, hino (chavões à parte) à nossa vida pós-contemporânea: noites mal dormidas, amizades, exaustão e a tentativa de prolongar a felicidade até aos limites do razoável, numa corrida contra a infelicidade. “Then it’s the memory of our betters / that are keeping us on our feet” – os mores maiorum de bandas como os LCD é que nos mantêm de pé, de facto – o momento O tempo o mores! de Murphy e companhia (armados em Cíceros) a continuar perfeitamente actual. Concertos, coboiada e copos para a semana, pessoal?
Não saímos de Nova Iorque nem das efemérides. Porquê? Porque passam cinquenta anos de um disco sem o qual canções como a anterior desta lista não seriam possíveis – um daqueles de top 3 de sempre. Os Velvet Underground na sua estreia intemporal, com pop art de Warhol na capa, Nico a acompanhar e sadismo, heroína, raparigas bonitas mas pobres e a melhor canção sobre domingos de manhã de todo o sempre. A experimentação de Cale, as afinações e letras de Lou Reed, o conjunto Morrison e Tucker assegurando o ritmo (?) nesta evocação à obra de von Sacher-Masoch e do pobre Severino, num substrato literário que poucas ou nenhumas bandas da altura tinham (nem os Beatles, lidem). Numa cave fantasmagórica encarnamos Wanda, tocamos o sino e espancamos Severino, enquanto observamos e ouvimos o imperador Warhol, a musa Nico e os Velvets construindo a histórica da música popular dos próximos cinquenta anos. Ficamos por aqui, que difícil foi não fazer esta Músicas da Semana com cinco músicas deste álbum magnífico e totalmente obrigatório.
De tão simples cantiga emana uma tamanha energia e tensão emocional, quer nos crus e violentos dedilhares da guitarra, quer no tremer da voz quando a letra se torna urgente; sobre os desencontros, as cedências e os braços-de-ferro amorosos que pintam a tela de uma qualquer relação, entre o romantismo e o cepticismo.
Ao longo dos anos, o sueco Jäje Johansson deu-nos a conhecer a sua capacidade de equilibrar uma ténue voz delicodoce entre bonitas melodias harmoniosas e rítmicas energéticas, reminiscentes do trip-hop que outrora liderou os tops. Mas continua a ser nestes trechos escoantes e tensos, esta uma obra de arte na relação melancólica entre o piano e o trompete, onde tão bem estes vocais encaixam e se fazem ecoar, que liberta o seu maior potencial auditivo, ele que é como vinho tinto para os ouvidos, inebriante.
A qualquer dada altura e sem grande justificação, será tempo de voltar à misteriosa Annabel (lee), nome de vocal deslizante e hipnotizante a que se acresceu o título do último poema de Edgar Allen Poe, e ao mesmo tempo símbolo de uma ponte entre o continente americano e o europeu. Ou como da instrumentalização delicada, cuidada e intemporal, se faz emergir um potente corpo faroleiro, retirando-nos da treva e da névoa e embrulhando-nos num manto de conforto e segurança.
Não sendo o maior fã de covers, por a maior parte delas replicar a original de forma miserável, tenho que admitir que o disco lançado pelos norte-americanos Matthew E. White e Flo Morrissey está uma belíssima obra auditiva, que ilustra a forma pura e descomprometida como duas vozes se podem complementar, e que se tornou companhia em tardes fatídicas em que o relógio não anda. Esta um pouco mais que as outras, em que reinventam a frustração lânguida de Frank Ocean e a transformam num diálogo de tempo acelerado com semblante mais luminoso.
Já há chinelo no pé e t-shirt dentro de casa, cheiro a mar nas ruas da costa e a suor nos transportes; o Inverno vai aos poucos arrumando a bagagem e colocando na mala as nuvens, o frio e as chuvas, entregando o posto ao astro-rei, que ilumina de novo as varandas e torra as peles e os cabelos, projectando no chão e nas paredes as sombras que já não nos lembrávamos de ter. Estamos quase na altura dos vestidos de primavera e dos óculos de sol.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)