Slipknot

.5: The Gray Chapter
2014 | Roadrunner Records | Metal

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Com uma banda que já leva um percurso tão conturbado, uma audiência tão definida e uns últimos anos de verdadeira confusão e reflexão, não seria de esperar que o quinto registo de estúdio deste grupo mascarado fosse algo vulgar. Com seis anos a separar este novo do anterior “All Hope Is Gone”, que contou com uma recepção mista, aconteceram demasiadas coisas no seio da banda para a agitar e a deixar dúvidas quanto ao seu percurso. Se a recente saída do carismático Joey Jordison da bateria poderia abalar a estrutura da banda, o derradeiro tombo foi a morte do baixista Paul Gray, há quatro anos atrás, que arrastou o estado emocional da banda para outros campos negros. E o fruto disso é este novo disco, inteiramente dedicado à memória do baixista e compositor do grupo. Logo, há algo aqui com um conteúdo mais profundo que os anteriores registos.

Com uma abordagem destas e já uns bons anitos de estrada e de vida, é de esperar que os antigos ídolos da miudagem rebelde amadureçam. Já desde “Vol. 3: The Subliminar Verses” que o grupo não tem mostrado muito medo em seguir essa direcção e já não se deve esperar que nos dias de hoje ainda se foquem em versos como “Fuck it all/Fuck this world/Fuck everything that you stand for”, se os portadores dessa mensagem já cresceram. Se foi a agressividade inicial que atraiu tanta atenção para o seu lado, não é por a balançarem com um lado mais melódico e sério que estragam alguma coisa. Para onde se apontam dedos é para a abertura cada vez maior da fenda que deixa entrar os Stone Sour nas canções dos Slipknot. E, arrume-se já esse assunto de uma vez, voltam a rasgar um pouco mais a dita cuja neste registo.

Tome-se o single de avanço “The Devil in I” como base: apresenta um malhão típico de Slipknot para fazer abanar as cabeças de quem tem o “Iowa” num pedestal, intercepta-o com um refrão açucarado a fazer a tal ponte que Corey Taylor mantém entre os Slipknot e os Stone Sour, e alguma surpresa pode aparecer com o blastbeat a quebrar qualquer gelo que pudesse estar ali a formar-se. A partir daí conseguimos partir para o resto. “AOV” assemelha-se a esse tema no esqueleto, há juvenilidade no tema da industrializada “Killpop” ou na vocalização de “Lech”; pendendo para aquele lado mais meloso, “Goodbye” ou “If Rain Is What You Want” andam por caminhos onde “Snuff” ou “Vermillion (Pt.2)” já andaram. Para quem torce o nariz a isso, há sempre uma “Sarcastrophe” ou uma “Custer” a candidatar-se para tema mais “pesadão” do repertório do numeroso grupo, se o que importar for malhar forte e feio. Pelo meio de tudo isto há aquela bela administração entre a castanhada dos antigos registos e a melodia que lhes dá um equilíbrio e um som-chave, com os riffs a soar fortes como se querem, uma bateria a abafar as saudades que Jordison pudesse ter deixado e uma vocalização mista de Corey Taylor, que volta a apresentar argumentos para que se lhe atribua o termo “talentoso”, dado os dotes em berrar e cantar um refrão quasi-AOR, quer se goste do seu trabalho ou não.

Com um conceito tão bem definido e inesperado como foi a perda de um importante amigo, já seria de antever que estes Slipknot fossem um pouco mais negros do que apenas agressivos. Mas não é só aí que se aponta uma diferente postura. Quiçá para fazer os incógnitos novos membros convencer, para capitalizar os seis anos de pausa entre discos ou apenas por ser o passo natural de uma banda que tem tanto povo a idolatrá-los como a apedrejá-los, mas o certo é que é possível que a banda nunca tenha soado tão focada como agora, ocupando-se a lidar com emoções e perda em vez de tudo o resto.

No entanto, sublinhe-se que apesar de toda a conversa de amadurecimento e experimentalismo, não estará neste “The Gray Chapter” o argumento que convencerá a larga fatia de fãs de música pesada que já não gostavam da banda, apenas não deve ser alienado e posto de lado por aqueles antigos fãs que se foram afastando por uma razão ou outra. O que está aqui é Slipknot como já é habitual vir no rótulo, apenas com mais alguns condimentos. A única dúvida que fica é se este é o disco que melhor soma as suas diferentes eras nesta fase já nostálgica da banda ou se era um assim que assentava perfeitamente como ponte entre o “Iowa” e o “Vol.3: The Subliminar Verses”. Como seja, para agora, para justificar a sua resistência e sobrevivência que muito tremeu, deve ser o melhor que podiam ter feito.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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