A Silver Mt. Zion

Fuck Off Get Free We Pour Light On Everything
2014 | Constellation Records | Post-Rock

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Ao compararmos o sétimo disco de originais, Fuck Off Get Free We Pour Light On Everything, com o primeiro registo – He Has Left Us Alone But Shafts Of Light Sometimes Grace The Corners Of Our Rooms – constatamos que, apesar de continuarem a trazer a luz até nós, pouco ou nada aproxima estes discos dos A Silver Mt. Zion, o que demonstra uma enorme evolução sonora no grupo. Este é também o primeiro disco do grupo após o regresso da instituição-mãe Godspeed You! Black Emperor ter editado ‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend!, em 2012.

O disco inicia-se com uma criança a confessar “we live on an island called Montreal and we make a lot of noise because we love each other”, o que se torna um bom indício para o que se passa nos 49 minutos seguintes. De facto, os A Silver Mt. Zion nunca antes tinham tocado de forma tão ruidosa como aqui, como nos mostra o tema “Fuck Off Get Free (For The Island Of Montreal)” – com uma bateria zangada ali pelos 4:30min e uma guitarra quase doom no epílogo. Em entrevista recente, Efrim Menuck, o estratega da banda, sempre muito activo politicamente, não tem medo de dizer que “we live in fucking terrifying times” e que nos devemos fazer ouvir. Esta necessidade de expressarmos as nossas próprias opiniões bem alto é homenageada neste primeiro tema em relação às manifestações contra o aumento das propinas em Montreal. Da mesma forma “Austerity Blues”assume-se contra as políticas de austeridade que, segundo o mesmo, “não nos levam a lado nenhum”. Ainda neste tema, o grupo canta “Lord, let my son live long enough to see that mountain torn down”, que vai de encontro à outra temática do disco, a morte que chega cedo demais. O tema “Rains Thru The Roof At The Grande Ballroom (For Capital Steez)” é dedicado, como o próprio nome indica, ao rapper Capital Steez que se suicidou com apenas 19 anos. “Little Ones Run” é como uma canção de embalar. Curta, frágil e bela. Efrim e Jessica – violinista – são pais de uma criança de 4 anos e a responsabilidade de criar um outro ser vivo neste planeta está espelhada num disco cheio de referências à decadência social e à fragilidade da vida em relação à morte.

Com um colectivo de músicos finalmente estabilizado (parecem ser definitivamente cinco) e bem oleado na estrada, o grupo canadiano oferece-nos um disco sem fillers e sem soundscapes intermináveis que, verdade seja dita, muitas das vezes não levavam a música a lugar nenhum. O som mais directo iniciado em Kollaps Tradixionales foi agora aperfeiçoado e temos uns A Silver Mt. Zion mais crus mas ao mesmo tempo mais musicais, cheios de vitalidade e urgência. Para trás ficaram também as dinâmicas “quiet-loud” do post-rock, com a excepção ao tema “What We Loved Was Not Enough” – que figurava no EP The West Will Rise Again e aparece aqui retrabalhado –com um solo de guitarra cheio de luz numa música que tem tudo para se tornar num hino de relações acabadas, por força de versos como “and the days come when we no longer feel”.

Ainda que os A Silver Mt. Zion continuem a ser olhados de lado e com alguma desconfiança por parte dos fãs de post-rock, é impossível não considerá-los o projecto mais consistente dos últimos 15 anos num género que se tornou amorfo e insípido. Fuck Off Get Free We Pour Light On Everything é o primeiro grande disco de 2014.


sobre o autor

Carlos Vieira Pinto

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