Tame Impala

Lonerism
2012 | Modular Recordings | Rock Psicadélico

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Quando em 1966 os Beatles editam Revolver e decidem desbravar pela primeira vez a inaudita floresta da psicadelia, longe estava o mundo de perceber que iria ser aquele o habitat natural de tantos seres que no futuro foram aparecendo. De uns The Cure, passando por Flaming Lips, até a uns Animal Collective, a mesma visão distorcida e alucinada do mundo está toda lá.

Em muitas destas viagens revivalistas, acontece um pouco como com a coca-cola: depois de aberta a primeira vez, perde o gás e a piada toda. No caso dos Tame Impala e de Lonerism em concreto, o dito refrigerante não só ainda tem gás, como também gelo e limão, fazendo deste regresso ao passado uma casa segura para toda a vida.

Se já seria fácil concordar com a afirmação depois de Innerspeaker – rock psicadélico com muita cor, muito trabalhado esculpido à mão, ao detalhe, que brincava com guitarras e vozes torcidas e distorcidas –, Lonerism consegue, no meio de tanta brincadeira, parecer um irmão mais velho que ainda gosta de brincar mas que já ganhou algum juízo.

É definitivamente com Apocalypse Dream que vemos a banda acordar na dimensão que melhor define Lonerism. Tendo em si um assumido espírito DIY, sem regra aparente, vemos cada tema funcionar como uma caixinha de surpresas, onde as canções perdem muito da sua estrutura habitual. Tanto que, se estas fossem uma peça de pintura, o resultado final talvez acabasse numa coisa meio abstracta.

Em Mind Mischief, vemos o seu riff sensualão de caminhar até ao refrão tardio e com Parker a bradar aos céus “she remembers my name!”. Todo este um sentido de liberdade muito trabalhada, permite que Lonerism não se perca e seja muito mais eficaz.

Elephant será o exemplo mais certeiro pela forma como impõe algum respeito e lei, não em nome do pai, do filho e do espírito santo mas daquilo que mais se quer: em nome do groovy, do punchy e do super catchy. Já Feels Like We Only Go Backwards bem como Sun’s Coming Up, são apenas mais dois exemplos que nos deixam a pensar se não haverá um John Lennon escondido por todos os recantos de Lonerism.

Sabemos hoje que o trisavô Revolver iria olhar para este descendente com a felicidade de quem percebe que a sua mensagem ficou muito bem entregue. Ainda assim, sabemos dizer com clareza que o chão de Lonerism não é nem só feito de Strawberry Fields, nem de Abbey Road ou de Penny Lane. Felizmente, os Tame Impala caminham numa estrada que é sua. E isso é o mais importante.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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