Reportagem


Wovenhand + Filipe Felizardo

Vivendo com as suas próprias regras.

Hard Club

04/05/2017


Os norte-americanos Wovenhand – projeto do singular David Eugene Edwards – regressaram ao Hard Club, no Porto, para dar um pouco de verdade encapsulada em forma de canção a um público devoto e fiel. Esta música parece saída de outro tempo, mas não é para velhos. Pelo menos, não para aqueles que são velhos de espírito.

A noite começou com Filipe Felizardo, acompanhado pela sua guitarra e pedais de efeitos, a declarar guerra aos amplificadores com os quais se gladiou durante cerca de meia hora. A estratégia, assente em colisões da sua direita nas cordas metálicas, traduzidas tanto em improviso sideral diante de um buraco negro como em parcos sustentáculos mais bluesy – âncora firme do público – culpa da sua esquerda, fizeram deste um combate digno de ser visto.

Mas o evento principal era o regresso dos norte-americanos Wovenhand ao Porto, depois de por cá terem estado na edição de 2014 do Amplifest, bandeira maior içada pela promotora  portuense Amplificasom desde 2011. O ritual começa, adequadamente, ao som de música nativa americana. Tambores e urros a avolumar a adrenalina nos corpos presentes.

Há, em David Eugene Edwards, um poder de atração impossível de dissimular. A atração que emana dos homens grandes, que seguem sós, trilhando os seus próprios caminhos. Vivendo com as suas próprias regras. David Eugene Edwards como John Wayne. Disparando a sua Colt. Compondo temas para Wovenhand, como ninguém é capaz de fazer.

Acompanhado pelo seu sidekick Ordy Garrison – na bateria – desde que terminou com os seminais 16 Horsepower, David Eugene Edwards juntou, há um par de anos, ao seu gang Chuck French e Neil Keener – na guitarra e no baixo – dos saudosos Planes Mistaken For Stars, uma banda que todos nós deveríamos ouvir muito, muito mais. A presença dos dois músicos é evidente no último par de discos, conferindo mais músculo à música dos Wovenhand. E é exatamente sobre esses dois últimos álbuns, Refractory Obdurate e Star Treatment que o concerto se centra.

A abrir, as dinâmicas de Hiss mostram ao público o que esperar do quarteto. Música rugosa como as montanhas do Colorado, com a pujança do caudal do Rio Grande e tão contemplativa quanto as planícies do Grand Valley. Foi assim com Salome, Corsicana Clip, The Hired Hand ou Sinking Hands.

Pelo meio, David Eugene Edwards ainda exorcizou demónios em performances mais teatrais de temas como as excelentes Swaying Reed, All Your Waves ou The Refractory, tendo os Wovenhand obrigado toda a gente a balançar avidamente na versão ao vivo de Obdurate Obscura, onde o baixo ondulante mede o pulso sem dar tréguas. Perdoem, já agora, este vosso escriba por pensar na lasciva Audrey Horne durante toda a rendição da lânguida Crystal Palace.

O público pediu mais e os Wovenhand regressaram ao palco para um encore com Five by Five, Low Twelve e King O King, para fazerem aquilo que sabem melhor, servir de veículo para o evangelizador, David Eugene Edwards espalhar a palavra d’Ele. Amén.

Galeria


(Fotos por Cláudia Andrade)

sobre o autor

Carlos Vieira Pinto

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