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Portugal ainda é visto como este cantinho aqui esquecido, de onde é difícil sair algo de sucesso e reconhecimento internacional, muitas vezes bastando uma mão para enumerar os actos que realmente o conseguiram a sério. É um caso de desatenção e de não considerar todos os espectros. O exemplo que interessa aqui é o de um black metal cru de segunda vaga que, pela Europa fora além do seu berço Norueguês, tem nos nossos Corpus Christii um dos nomes mais notáveis e aclamados. A banda traz-nos agora “Delusion”, álbum que aproxima a contagem da dezena e já meio assinala a chegada às duas décadas de carreira. E vem com uma força e foco de uma banda que ainda tem esses números pela frente.
“Delusion” chega com uma qualidade imensa e vem provar que muitas das vezes a melhor maneira de se destacar e diferir dos restantes não é andar a correr às voltas, de mãos na cabeça, sem saber o que inventar para florear tudo e ver se dá para inventar alguma coisa nova. Aqui o caso é de canções de black metal puro e duro, directas e sem rodeios, com ganchos sólidos nos riffs gélidos e nos rugidos blasfémicos e, ainda assim, estranhamente perceptíveis de Nocturnus Horrendus. Temas sujos mas memoráveis, sem dispensar a sua quota de melodia e a sua outra tanta de caos. Por vezes para ser diferente basta isso, escrever canções melhores que os outros.
Sem ser um sucessor directo do anterior “Pale Moon” e da sua vertente mais atmosférica, em termos sonoros marca bem o seu lugar na consistente discografia do grupo-quase-projecto-individual. Mantendo apenas a mesma abordagem crua e despida desse e de todos os outros registos, “Delusion” é bem mais focado na canção e no black metal como o conhecemos na sua simplicidade, sem deixar de lado o ambiente apocalíptico.
Há a abertura “The Curse Within Time” que pode muito bem ser uma lição de escrita de canções deste género, há a procura do lado mais veloz e da fúria mais animalesca como em “Chamber Soul” ou na curta mas aterradora “Seeker of All”. Mas também há umas surpresas e das boas como “Become the Wolf” e o seu riff rockeiro – o abanar de cabeça para esta é imediato e involuntário – que ainda surpreende mais com o seu estupendo refrão sing along. E também há temas como a conclusiva “Carrier of the Black Holes”, que pesca a todas essas fontes que cobrem um esqueleto mais progressivo, sem deixar de ser uma das faixas mais maníacas de todo este colectivo sólido.
“Delusion” tem muita qualidade e o que ainda pode deixar alguém mais cabeçudo e a matutar é a sua fonte. Como consegue sair tanta criatividade de um indivíduo – que governa esta entidade praticamente sozinho – que, para além destes Corpus Christii, ainda tem a cabeça bem cheia com mil-e-uma outras bandas criativas e conhecidíssimas do nosso underground nacional. Ele lá sabe como o fazer e já o vai fazendo há bastante tempo. É que os Corpus Christii já não têm tão poucos discos e não têm uma discografia propriamente de altos e baixos. E, ainda assim, este “Delusion” até é bem capaz de ser o melhor deles todos.