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Guy Ritchie está-se a tornar velozmente um dos meus realizadores preferidos da actualidade. Recordo-me de estar a entrar para a adolescência e de arrastar os meus pais para o cinema para o Lock Stock and Two Smoking Barrels. Sendo cinema uma das actividades predilectas da família, o mesmo não se pode dizer desta escolha que me pôs de castigo em termos de decisão de títulos durante uma temporada. No entanto, claro que eu me deleitei e sabia que tínhamos aqui um realizador com imagem de marca e que Tarantino não estava sozinho no tipo de diálogos que eu tanto apreciava. Os filmes de Ritchie são sobretudo marcados pela velocidade! A sua estética muito própria torna-se explosiva, graças à rapidez quer da sucessão de cenas, quer da maneira como as personagens comunicam. Snatch é um perfeito exemplar desse estilo que veio consagrar o britânico como um dos nomes mais promissores da realização actual. Revolver e RocknRolla mantêm esse modelo, tal como ambos os Sherlock Holmes (sendo que o terceiro título da saga se encontra em filmages). Pode-se também dizer que The Man From U.N.C.L.E. foi um dos melhores filmes de 2015 e, sem dúvida, o mais divertido (especialmente a cena mítica dentro da carrinha ao som de Che Vuole Questa Musica). Agora, Ritchie chega com King Arthur: Legend of the Sword e não só não desilude como mantém esse ritmo que torna as suas obras tão ímpares.
King Arthur: Legend of the Sword traz-nos a história do herdeiro Arthur que é atirado para as ruas, mas que vê a sua vida subitamente mudar quando retira a espada da pedra e se vê forçado a abraçar o seu destino. Basicamente, é a história da lenda da espada e de como tudo começou para os que viriam a ser os cavaleiros da Távola Redonda, mas contado à boa moda de Ritchie, ou seja, recheado de acção, humor e diversão. O filme é também repleto de magia, sendo esta o principal cenário e ilustrando de modo extraordinário a luta interior de Arthur.
Para além de secundários perfeitos – costumam aliás ser marcantes nos filmes de Ritchie – temos duas interpretações de peso: Charlie Hunnam como Arthur e Jude Law como Vortigern. Ambos têm interpretações poderosas, não se conseguindo desviar os olhos de cada um deles de cada vez que entram em cena. Law está particularmente brilhante num papel da mesma linha do que iniciou como Papa em The Young Pope, onde devastou audiências com o seu talento. Em King Arthur: Legend of the Sword, Law tem duas cenas particularmente memoráveis: a cena em que se refere ao medo instigado nos seus súbditos e a cena em que paga o preço que tem de ser para conseguir os seus intentos. Hunnam interpreta Arthur com muita credibilidade e é dono das cenas mais hilariantes do filme. Outra cena memorável, interpretada por secundários, é o triângulo: pai, filho e guarda, que nos traz de volta boas memórias, sendo uma homenagem a Reservoir Dogs, em versão à la Ritchie. Outro ponto alto é a banda-sonora de Daniel Pemberton, que já tinha brilhado em The Man From U.N.C.L.E.
Definitivamente, este é um daqueles filmes que vale a pena ver no cinema, pois são este tipo de histórias e cenários que justificam a sensação de entrarmos numa sala para viajarmos durante duas horas para mundos distantes, onde os heróis não nascem do berço, são forjados lentamente em cada cicatriz e nódoa negra da batalha de transformação, luta essa que todos nós enfrentamos e que é interior. Circunstâncias e pessoas podem inspirar-nos e impulsionar-nos a seguir essa estrada, mas podemos igualmente fechar os olhos e escolher outro percurso, pois trata-se dum caminho intenso, doloroso e algo solitário, onde se enfrentam as sombras mais assustadoras e difíceis de todas: as nossas.
Everybody wants to look away. That’s the difference between men and kings.
King Arthur: Legend of the Sword tem assim um papel preponderante no nosso imaginário, relembra-nos que temos de ser o nosso próprio herói e que essa transformação só ocorre quando nos atrevemos a explorar os meandros do nosso interior. Ou nas palavras de Jung: “He who looks outside: dreams; he who likes inside: awakes.” E tudo isto com imensas gargalhadas, cenas de acção pujantes e muita magia!
Um filme divertido e refrescante que só pode ser totalmente desfrutado no grande ecrã!