Reportagem


NOS Primavera Sound

Parque da Cidade

09/06/2016


Começou o Primavera Sound no Porto. E que bom foi o pontapé de saída nesta quinta edição. A memória é curta e já nem nos lembramos dos tempos em que os festivais de música em Portugal não traziam cartazes tão diversificados, tão magnânimos e com tanta qualidade – e eu culpo a vinda do festival de Barcelona para o Porto.

Entrar no Parque da Cidade devidamente preparado para nos acolher, é sempre uma bonita experiência. É como se a organização fizesse questão de preparar um pequeno paraíso, recheado de bom gosto e função, para quem contribui para esta edição esgotada. Há duas grandes novidades: o Palco Pitchfork encontra-se junto à entrada/saída do recinto e a oferta de alimentação cresceu, havendo agora um espaço destinado a food trucks. Mas falemos de música, que afinal – para além dos amigos – é o que nos leva ao Primavera.

Foi com os portugueses Sensible Soccers que às 17h tudo começou, com a sublime “Clausura”, uma espécie de mantra cinematográfico que chamou quem ainda estava disperso no relvado. E que mais dizer sobre o trio que revolucionou o panorama musical nacional? “Vila Solledad” é um dos álbuns de 2016, tal como o longa duração anterior foi no ano em que foi editado. Falamos de uma perfeita sequência estival de sons de Verão que se integraram lindamente no Primavera e no seu cenário verdejante. Os primeiros corpos dançantes ergueram-se da relva e contagiaram o Parque da Cidade de celebração e devoção. Haverá melhor ritual de boas-vindas ao Primavera Sound deste ano? Proponho à organização que os Sensible Soccers repitam o número anualmente.

O fim de tarde prosseguiu com as U.S. Girls, de regresso a Portugal. E continuou a festa e a dança. Acabariam por protagonizar o momento mais falado da noite: terminaram o concerto de vassoura na mão, a varrer o palco. Mas a voz feminina mais marcante havia ainda de chegar, de seu nome Julia Holter. Em disco, a norte-americana preenche vazios e emociona com o seu carácter reflexivo. Ao vivo, contudo, não chegou para aquecer a noite – manteve-se num ritmo morno, pouco interessante. Talvez tenha sido do enquadramento, há artistas que não nasceram para tocar em festivais.

Quando a noite chegou, chegou também a hora do primeiro cabeça de cartaz deste Primavera subir aos palcos: os Sigur Rós. O público português bipolariza-se numa relação amor/ódio aos islandeses, com muitas camadas e alíneas pelo meio. Um dos maiores fenómenos da música contemporânea explorou novas sonoridades – como todos os criativos fazem, diga-se – mas não convenceram com os mais recentes trabalhos. O concerto de 9 de Junho foi uma das primeiras datas da tour internacional, onde ensaiaram sons novos e recordaram boas memórias. De uma forma geral, foi um concerto que trouxe muita expectativa: aqui e ali, nos rescaldos do  Primavera Sound de Barcelona, li que foram um dos momentos maiores e mais surpreendentes, e vi-o ainda no topo de um top 10 concertos do festival. E cumpriram, superaram até. Sigur Rós foi uma estreia absoluta para mim e mereceu cada segundo da minha atenção. Navegaram pelos grandes temas da sua carreira, num palco devidamente decorado e que interagia com a música, entre momentos apoteóticos e de cortar a respiração.

Neste primeiro dia de Primavera Sound no Porto, subiram aos palcos essencialmente música de festa e celebração. Mas foi com Parquet Courts que fizemos uma breve pausa e entrou o rock. Nova-iorquinos de gema, fizeram jus ao título do terceiro disco, lançado no início deste ano: Human Performance. Foram viscerais e fizeram vibrar, agarraram o palco e devolveram guitarras sujas, feedback e a atitude certa do punk rock. Um perfeito oposto aos Sigur Rós, mas que animou os ânimos para o que veio a ser o último concerto da noite.

Os Animal Collective passam-me ao lado. A verdade, é que não compreendo a música que fazem, não a considero minimamente interessante – perdoem-me a franqueza. A cada disco que lançam, ouço generosamente numa vã tentativa de me deixar convencer. Mas ao vivo, o sentimento agoniza. Em bom rigor, os fãs de Animal Collective vibravam e dançavam, naquele que foi um concerto profissional mas que nada de novo conseguiu fazer. Optei por terminar a noite no Palco Pitchfork, que se estreou este ano com o aclamado e colorido DJ Fra.

Hoje, no segundo dia do festival, esperam-se grandes emoções: os “Pet Sounds” de Brian Wilson, o regresso da guerreira PJ Harvey e pop de Beach House são os mais desejados. Resta esperar que correspondam.

Galeria


(Fotos por Martin Henrik)

sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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