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Aproximavam-se as 20h da passada sexta-feira, e a fila formava-se em Alvalade. Houve quem chegasse cedo, não para marcar lugar – tarefa que se viria a revelar difícil – mas para se iniciar a troca de bilhetes para uma noite longa de música na linha que divide a pancadaria do sentimento.
Para abertura das hostes, os Somber Rites ainda pouco compunham a sala, com muita gente ainda em espera na porta. Constituídos por membros de uma lista infindável de bandas como Northern Blue, Twentyinchbural, Day of the Dead, Vultures ou For the Glory, o quarteto manteve-se fiel ao género das bandas de onde os reconhecemos, tecendo elogios e agradecimentos à mãe Raging Planet.
Os Somber Rites revelaram ainda que actuam no próximo dia 27 de Junho, ao lado dos For the Glory e Grankapo, para um concerto de beneficência a favor das vítimas dos mais recentes incêndios, no Popular Alvalde e com entrada gratuita.
Seguiram-se os ingleses Carbine que, com um simples Cold Blooded na mira, conseguiram iniciar o caos na sala. Directamente de Sheffield para um arraial de chapadas que percorria a sala de ponta a ponta, fazendo prever o ambiente para os americanos que os seguiram.
Ainda antes de os Code Orange (fka Code Orange Kids) tomarem o palco, formava-se um espaço vazio ao centro da sala. Os mais agressivos tomaram conta da zona até que os americanos começassem a desfilar – com o ar menos amigável possível – o mais recente Forever, iniciando o set com a música que lhe é homónima e seguindo para “Kill the Creator”. Passando o primeiro toque em I Am King, com “My World”, a sala amansou perante a voz mais suave de Reba Meyers que, durante “Bleeding in the Blur”, toma o lugar mais relevante nas vozes, roubando-o ao baterista Jami Morgan que as assume na maior parte do tempo. A sala estava, oficialmente, bastante composta de fãs dos norte-americanos que abraçaram o peso do breakdown um pouco por toda a sala enquanto os dois últimos discos – ambos com mão de Kurt Ballou e toques de Deathwish e Roadrunner – se faziam mostrar. Love is Love/Return to Dust ficou de fora da mostra, e “I Am King”, que inicia o álbum do mesmo nome, encerrou a estadia do quintento, e fez descer o pano de imagem ensanguentada que ilustra o álbum lançado em Janeiro deste ano, dando lugar à capa mais pacífica (dentro do que é possível considerar) dos headliners da noite.
Algum do público lisboeta abandonou a sala, enquanto os californianos se posicionavam de sorrisos na cara. Stage Four é o disco que trouxe os Touché Amoré, pela primeira vez a Portugal, e que no ano passado se posicionou em vários tops, até dos mais brutos. A marcar a sua entrada na Epitaph, o disco que Jeremy Bolm pensou em luto pela mãe é talvez um dos mais honestos dentro do género. Embora se estranhe inicialmente que este seja o registo mais melódico da banda, aos primeiros acordes de Flowers and You não há voz que não se levante no RCA. Numa banda da qual não se conhecem clássicos, toda a escolha é merecedora de stage dives e microfones passados ao público. Apesar de Stage Four servir de pano de fundo, os quatro discos anteriores tiveram o seu momento no pequeno palco, com “~” e “The Great Depression” do segundo Parting the Sea Between You and Me a marcarem o passo para as arranca-corações “New Halloween” e “Displacement”. A noite começava a parecer algo esquizofrénica: entre o desbravar de socos e os gritos emotivos em que nos embrenhávamos agora, não havia como não sair de rastos da sala. Fosse “DNA”, “Harbor” ou “Just Exist”, de Is Survived By ou “Pathfinder” e “Home Away From Here” de Parting the Sea Between Brightness and Me, o sentimento era palpável por toda a sala. À despedida, “Honest Sleep”, do álbum de estreia, promoveu as últimas partilhas de microfone e fez com que os californianos se despedissem, para um encore que não é comum em todas as datas – “Gravity, Metaphorically”, metade pela qual são responsável numa parelha com Pianos Become the Teeth dizem adeus a Lisboa.
A sensação de que esta será talvez uma das bandas mais queridas e mais capazes dentro do género que lhes dá casa parece generalizada. A sala arrefece e lá fora trocamos sorrisos, algum contentamento e a vontade de repetir.
Texto por RS
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)