Anathema

The Optimist
2017 | Kscope | Rock progressivo

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Ao décimo-primeiro disco, já estabelecidos como um dos grandes grupos da música progressiva e atmosférica, criadores de algumas das canções mais emocionais de que há memória e depois de atravessar múltiplas sonoridades e facetas, os Anathema regressam com “The Optimist”, um disco que pode virar a página para uma nova fase na sua carreira, após uma trilogia de álbuns densa em melodias melancólicas e elementos orquestrados.

E dão este possível passo em frente… Voltando atrás. Resgatam o conceito e o sujeito que dá a vida a “A Fine Day to Exit”, álbum lançado em 2001. O final aberto dessa história faz com que se resgate a personagem dezasseis anos depois para sabermos algo mais sobre o seu solitário paradeiro. O carro que decora a capa de “A Fine Day to Exit” é o mesmo cujos faróis iluminam a paisagem da capa de “The Optimist”. E “32.63n 117.14w”, título da faixa introdutória deste novo registo corresponde às coordenadas exactas da praia de San Diego, localização onde o indivíduo deu os seus últimos sinais. Sim, estamos perante um álbum conceptual e uma sequela directa do disco de 2001.

Quanto à sonoridade, é a base de tudo o que têm sido os Anathema depois desse disco, numa espécie de apanhado daquilo que é agora o seu som de marca, mas sem deixar de se focar noutros elementos para constituir o esqueleto das canções. Nada a temer, visto que já foram uma banda de death/doom metal inicialmente, logo os seus fãs já deviam saber melhor do que torcer o nariz a mudanças. Especialmente quando são muito subtis e tudo se mantém “à Anathema”, funcionando como um sucessor directo dos recentes discos. Apenas se recorre bem mais aos elementos electrónicos que já lá iam marcando presença mais discreta, mas que aqui ocupam bem o primeiro plano e servem de base para todas as canções.

E tudo joga bem aqui. É o som familiar de Anathema mas com elementos electrónicos a envolvê-los. Por exemplo, logo a entrar temos umas batidas a lembrar algo de Radiohead em “Leaving It Behind”, há “San Francisco”, um longo interlúdio instrumental que coloca um piano a dançar em conjunto com uma patente batida electrónica, há “Ghosts”, claro destaque no meio de todo este rico alinhamento, a trazer vestígios de trip hop no bico, e uma batida desesperada no pano de fundo de “Wildfires”, a querer dissonar com a voz de Cavanagh, antes de irromper no mais gritante riff de todo o disco.

E no geral temos os Anathema como os conhecemos nas últimas duas décadas, com a mesma atmosfera e as mesmas emoções à flor da pele que eles tanto fazem por nos puxar, nem que seja à força. Como já têm vindo a tornar tradição, a entrada com “Leaving It Behind” e “Endless Ways” é do mais melancólico que qualquer banda consiga fazer. Ou recorrendo a palavrões normalmente associados à banda Inglesa, são canções extremamente depressivas. Mesmo com um disco curiosamente intitulado “The Optimist” e com letras mais positivas e a focar na superação da dor e da perda em vez do habitual afogo em toda a mágoa, a atmosfera é a mesma. E se não der para arrancar o choro desenfreado, ao volante, debaixo de chuva, como já fizeram as “Untouchables” do “Weather Systems”, então culpem-se essas canções e não as novas, que não têm falhas.

Outro factor que causaria motim se estivesse em falta mas que cá marca a sua bela presença é a doce voz de Lee Douglas, que já tem o velho hábito de vocalizar alguns dos mais acabrunhados temas do repertório da banda. E cá está ela a vociferar algumas das melhores canções do álbum como “Endless Ways”, “Springfield”, uma das que mais facilmente podia constar em qualquer outro disco pós-Hindsight, ou naquela tal angelical “Ghosts”. E se fizer muita falta um épico longo, o disco fecha com “Back to the Start”, orquestrada e tudo, a levar-nos ao ponto inicial, deixando uma conclusão possivelmente aberta. O tal homem que gosta de vaguear e de ouvir Anathema no rádio do carro é capaz de voltar outra vez daqui a uns anos, quem sabe.

Resumindo tudo, experimentando algumas coisas diferentes e construindo canções à volta de outros elementos, tudo aqui é território familiar e os Anathema apresentam um seguidor lógico de “Distant Satellites”, mantendo o fio condutor do seu percurso. Sabem como não estagnar. E seja com mais ênfase na electrónica ou na orquestra, os Anathema não deixam de ser dos melhores compositores de alguma da música progressiva e atmosférica mais hipnotizante e envolvente que existe na última década.

Se há algo a debater em relação a este disco que seja a sua posição em comparação aos seus antecessores que deixaram uma fasquia demasiado alta, mas o que não se pode meter em causa é que esta aposta mais recente da banda é igualmente forte e volta a mexer com as nossas emoções, chegando-nos na forma de um disco que tem tanto de complexo como de acessível.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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