Reportagem


Super Bock Super Rock

Red Hot Chili Peppers deixam fome por mais

Parque das Nações

13/07/2017


Assim como no ano passado o primeiro dia do Super Bock Super Rock trouxe de volta consigo o verão meio adormecido. Reavivam-se as memórias de procurar refúgio na sombra debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, mesmo que isso implique ficarmos afastados do palco, e dos escaldões na escadaria da MEO Arena para os primeiros concertos do palco LG. Mas este ano para combater o calor havia uma melhoria, os gelados que a Olá ofereceu ao desbarato pelos três dias do festival aos transeuntes. Tornou-se um clássico deste Super Bock Super Rock ver alguém a trincar um Solero para onde quer que olhássemos. Para o ano queremos mais ok?

E vamos directos ao assunto, porque desde que os bilhetes para o primeiro dia do Super Bock Super Rock esgotaram por altura do Natal, que era óbvio que o motivo que levou as cerca de 20 000 pessoas ao Parque das Nações em Lisboa, na passada quinta-feira, tinha um nome – Red Hot Chili Peppers. Já aqui deixámos as nossas impressões sobre o concerto da banda californiana, ainda feitas a quente horas depois de terminar, mas agora, dias depois, já com uma visão global de todo o festival e com tudo o que fomos absorvendo em conversas com amigos e nas inevitáveis redes sociais, a sensação de insatisfação mantém-se. Quando vimos a MEO Arena explodir à entrada da banda para a frenética “Can’t Stop” depois de um sólido instrumental, nunca imaginámos ser possível que a energia da sala descesse com o decorrer da noite ou que à saída nos cruzássemos com tanta frustração.

The New Power Generation no Super Bock Super Rock

The New Power Generation

A duração do concerto e a setlist escolhida, pelos rapazes da cidade dos anjos, têm sido repetidamente apontadas como o principal motivo de descontentamento. Mas a verdade é que teria bastado uma pesquisa pela internet para perceber que o alinhamento de Lisboa não fugiu muito ao que a banda tem apresentado por outros países nesta digressão. Quanto à duração do concerto é bem verdade que, gozando do privilégio de serem cabeças de cartaz, os Red Hot Chili Peppers poderiam ter alargado o seu set e acreditamos que bastariam mais um par de músicas icónicas da banda para fazer as delícias de muitos. Mas terá sido mesmo isso o que falhou? Não conseguiram pois os Deftones, que actuaram no último dia do festival e numa janela de tempo inferior à dos Red Hot Chili Peppers, apresentar um concerto que deixou toda a gente em delírio? O tempo e outros concertos da banda, que esperamos ainda ter oportunidade de ver, o dirão, mas por enquanto parece-nos que talvez tenham sido as nossas expectativas exageradas que nos atraiçoaram.

O primeiro dia do Super Bock Super Rock foi bem mais que Red Hot Chili Peppers, por isso falemos outra vez da bonita festa que os Throes + The Shine deram um pouco antes no palco LG, e de como puseram toda a gente a dançar sem reservas. Estes quatro rapazes vindos do Porto, que meteram no mesmo caldeirão rock, kuduro e electrónica, vieram reclamar a batida à capital e fazer a festa mais alegre que vimos neste Super Bock Super Rock. Os Throes + The Shine podiam ter feito uma residência nos três dias do festival que ninguém iria enjoar.

Kevin Morby no Super Bock Super Rock

Kevin Morby

De quem também nunca iremos enjoar, por mais concertos que vejamos, é de Kevin Morby. Em menos de um ano já tivemos a sorte de o ter por cá em três ocasiões diferentes para vários concertos. Ao Super Bock Super Rock veio apresentar o novissímo City Music que, orgulhosamente, podemos dizer que já sabemos acompanhar nas letras de muitas músicas. Não ficaram de fora as antigas “Harlem River”, “All of My Life” ou “Parade”, e “Dorothy” elevou-nos o espírito como sempre. Esperamos agora que Kevin Morby também nunca enjoe do público português, porque por nós pode regressar sempre que quiser.

O primeiro dia de festival trouxe-nos também de terras do tio Sam os The Orwells. Estávamos curiosos pela sua reputação de concertos incendiários, mas a verdade é que ao fim de alguns minutos os movimentos desengonçados e as caretas expressivas de Mario Cuomo, perderam a piada. E o mesmo se pode dizer do seu garage rock, que nos soou todo um pouco ao mesmo.

Boogarins no Super Bock Super Rock

Boogarins

No mesmo palco, o EDP, tocaram antes os Boogarins. A voz adocicada de Dinho Almeida é capaz de fazer qualquer um de nós perder-se em sonhos aveludados psicadélidos, sem a ajuda de qualquer aditivo. Os brasileiros foram responsáveis pelo concerto com as melhores vibrações do primeiro dia do Super Bock Super Rock.

O trânsito caótico de Lisboa trocou-nos as voltas mas ainda chegámos a tempo de encontrar uma plateia muito composta para ver Alexander Search, a primeira banda do dia, sinónimo de que a febre Salvador Sobral ainda está forte.

Feitas as contas ao primeiro dia só lamentamos ter sacrificado o concerto de The Legendary Tigerman para conseguir um bom lugar para Red Hot Chili Peppers. Constou-nos que perdemos um concerto do caraças (que podem ainda assim acompanhar na reportagem fotográfica). De resto nada mais a lamentar, saímos de pernas doridas e peito cheio, que é o que se quer para um bom arranque de qualquer festival.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Vera Brito

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