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Vivemos em tempos curiosos em que, para os mais atentos, os adjectivos associados aos realizadores dos mais recentes filmes começam a ter significados bem definidos além dos originalmente planeados. Valerian and the City of a Thousand Planets, adaptação da saga de banda desenhada Valérian et Laureline, chega-nos ao cinema pelo visionário realizador Luc Besson e se alguma coisa aprendemos na história recente do cinema é que “visionário” tem muito pouco de positivo. Basta relembrar a recente opera espacial Jupiter Ascending, realizada pelos visionários Wachowskis, com direito a uma lição de overacting do oscarizado Eddie Redmayne ou de um Channing Tatum a representar Channing Tatum, mas numa cor de cabelo diferente da habitual. Não queremos ser, no entanto, injustos com Luc Besson e adoramos que nos tenha deixado obras como Léon ou Le Cinquième Élément, mas há uma razão específica para só a partir de Lucy ele começar a ser designado de visionário no mundo do cinema. Valerian torna-se assim, lamentavelmente, mais uma obra visionária num universo sem fim de ficção científica aborrecida.
Por mais que nos tente convencer do contrário, a premissa de Valerian é bem simples. Existem, alegadamente, milhares de raças, mas há apenas duas que vão interessar seriamente para o desenvolvimento da trama central. Por um lado encontramos os humanos ou, mais especificamente, Dane DeHaan e Cara Delevingne, o par improvável e disfuncional que tenta demasiado passar a ideia de que existe uma relação interessante e complexa e, do outro, os pearls, que nos lembram os nativos retratados em Avatar, tanto na aparência como no papel que têm na narrativa. Pelo meio, há uma série de aventuras paralelas que são exploradas e que, se ignorarmos que nos distraem de uma suposta missão urgente que é desvalorizada, até conseguem animar um pouco um deserto de ideias.
Desde o primeiro momento que conseguimos perceber qual vai ser o tom adoptado em Valerian, com uma má introdução, seguida de uma péssima apresentação das duas personagens centrais. As altas patentes de um grupo de operações especiais, Valerian e Laureline, encontram maior diversão em demonstrar uma tensão sexual mal resolvida entre eles do que a justificar o porquê do Ministro da Defesa de Alpha, uma metrópole de importância extrema para todas as raças do universo, ter confiado neles missões de extrema importância. Na eventualidade de o início regularmente mau não afastar o interesse de quem esperava um bom filme, Luc Besson guarda para fases mais adiantadas da história momentos surreais como o que vai juntar Dane DeHaan, Ethan Hawke e Rihanna numa longa cena de música e dança num cenário muito difícil de explicar. Igualmente inexplicável é a necessidade de tornar claro todos os passos que são dados em qualquer direcção na narrativa, especialmente pela mão do Comandante Arun Fillitt, interpretado por Clive Owen, que é pródigo na arte de auto-culpabilização desnecessária.
Existem aspectos positivos no mar de péssimas decisões deste aspirante a épico da ficção científico, mas acabam por surgir apenas por algumas personagens secundárias que parecem saídas de outros filmes, completamente perdidas e descontextualizadas a interagir com os protagonistas de Valerian. Quando não gritam artificialidade excessiva, os cenários construídos são vistosos e agradáveis, sendo um dos principais responsáveis pela pouca credibilidade que o universo retratado ainda consegue transmitir. Reconhece-se que não foi tarefa fácil conseguir inovar num género que se encontra tão sobrelotado com filmes irrelevantes e o simples facto de esta ideia nos surgir ao longo da mais recente obra de Luc Besson é, por si, um aspecto negativo. Encontramos vontade de fazer diferente, mas não a capacidade de atingir esse objectivo.
O universo deixado por uma BD rica que influenciou grandes clássicos da ficção científica no cinema não foi suficiente para conseguir uma obra relevante no género nos anos que correm. Pedia-se mais na adaptação ou, pelo menos, diferente. Luc Besson perde-se em histórias sem rumo, em personagens sem encanto e em situações tão aleatórias quanto desnecessárias. Se lhe reconhecemos qualidade, pelos bons filmes que já nos ofereceu no passado, a verdade é que o realizador francês não tem conseguido cumprir os requisitos mínimos nos últimos tempos, com este Valerian a ser apenas o mais recente destes casos. O segmento artístico de Rihanna resume aquilo que é o filme; sabemos desde início que dificilmente aquilo vai correr bem, passamos demasiado tempo a ver algo que não queremos realmente ver e no final ficamos sem perceber porque é que aquilo aconteceu.