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Sejamos sinceros, antes de colocarmos os olhos no filme de David Leitch, produtor de recentes bons filmes de acção como John Wick, estamos imediatamente influenciados pelo seu incrivelmente mau título. Após muita capacidade de abstração, é possível anular o facto de estarmos a ver um filme chamado Atomic Blonde e podemos começar uma apreciação neutra do mesmo. Não é tarefa fácil, uma vez que este tem um grafismo bastante apelativo que dá um ênfase especial também ao título, mas sentimos que neste momento começa a tornar-se num mal menor. A acção impiedosa recheada de estilo que podemos encontrar em John Wick não está presente, nem em quantidade, nem em qualidade, mas recebemos, em vez disso, um argumento confuso e recheado de twists tão inesperados quanto desnecessários. Uma coisa é certa, David Leitch não falha em dar aquilo que promete, Charlize Theron está loira como sempre e não fica muito longe de ser atómica uma ou outra vez.
A história de Atomic Blonde é narrada pela personagem de Charlize Theron, Lorraine Broughton, que se encontra detida para interrogatório por razões que esperamos vir a descobrir em alguma altura do filme. Prometer explicações desde o primeiro momento não é uma boa estratégia quando tudo o que se segue nos dá sempre mais pontos de interrogação do que certezas. Quando finalmente as revelações começam a surgir, já é muito difícil demonstrar interesse por onde estamos nos estão a levar. Há uma insistência em alguns aspectos que são centrais para a narrativa, dos quais não nos deixam esquecer nem por um segundo, e um lote extremamente reduzido de personagens relevantes onde se incluem o parceiro rebelde da protagonista David Percival (James McAvoy) e a sensual, mas irrelevante, agente francesa Delphine Lasalle (Sofia Boutella). Nada disto, no entanto, aumenta o interesse pelo argumento.
Percebemos que há uma tentativa de criar aqui um bom thriller, mas os pontos fortes da película de David Leitch estão muito longe dos aspectos narrativos. O visual, com um estilo muito assente no néon e no graffiti, funciona bem com as cores frias que predominam nos cenários apresentados em Berlim e quando combinamos bons visuais com boa acção, temos o melhor que Atomic Blonde tem para nos dar. No entanto, estes são aspectos que falham em coincidir com regularidade, principalmente pela escassez de cenas onde a personagem de Charlize Theron demonstra todos os seus recursos. Há demasiado tempo de antena para detalhes como as mais variadas roupas que a agente especial do MI6 leva para Berlim e as suas interacções aparentemente complexas com as personagens em ambas as linhas temporais que acompanhamos e pouco ao que é vendido como o principal chamariz do filme.
O principal defeito que encontramos aqui é precisamente a tentativa de aproximação a uma complexidade acima da que era pedida para esta adaptação ao cinema da BD “The Coldest City“. Toda a estilização que se deu, o modo como se vendeu a personagem de Charlize Theron e o facto de ser David Leitch a tomar conta da realização levavam a crer que, independentemente do nome que esta adaptação acabou por ter, estávamos perante um muito promissor filme de acção ao estilo de John Wick. Ainda que tenha boas cenas individuais, há demasiados aspectos que não funcionam ou se mostram desinteressantes em Atomic Blonde. No final sucedem-se os twists na narrativa e o filme grita que está a ser complexo e relevante, mas o interesse já se perdeu há muito quando entendemos que não vale a pena tentar entender o rumo que está a ser tomado.