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Al Berto
Título Português: Al Berto | Ano: 2017 | Duração: 109m | Género: Drama, Biografia
País: Portugal | Realizador: Vicente Alves do Ó | Elenco: Ricardo Teixeira, José Pimentão, Raquel Rocha Vieira

O formalismo teatral da primeira cena não augura nada de bom para este biopic do poeta Al Berto. O filme confirma o presságio inicial e desperdiça uma matéria riquíssima dos tempos do Processo Revolucionário em Curso.

1974 – 1976, primeiros anos de liberdade após as trevas do Estado Novo. O poeta regressa a Sines, num período de convulsões e expropriações. Assumidamente homossexual, é aqui que, entre a herança dos tempos do fascismo e um certo conservadorismo de costumes do Alentejo comunista, Al Berto e um grupo vanguardista, diletante e boémio vão encarar o reaccionarismo da população, entre a desconfiança e a agressividade. O contraste entre a vivência cosmopolita e aberta dos recém-chegados e a tacanhez da Sines dos anos 70 seria um tema interessante e desafiador para ser tratado no cinema. Mas o que vemos é um acumulado de cenas sentimentais e homoeróticas e de reacções meio avulsas da comunidade piscatória de Sines, sem o mínimo de espessura dramática.

A desilusão é tanto maior quando Vicente Alves do Ó é o realizador de Florbela. Mesmo num período de depressão e em que não escreve, há mais sensibilidade poética na Florbela Espanca de Florbela do que no Al Berto de Al Berto. Sendo dois biopics de dois poetas, na passagem de ambos pelo Alentejo, a comparação é inevitável.

As diferenças começam nas interpretações. Se Dalila Carmo tem um dos papéis mais marcantes do cinema português dos últimos anos, Ricardo Teixeira parece sempre muito pouco convincente, entre a inexperiência e a teatralidade excessiva. Mas as diferenças não se ficam por aqui. Se o argumento de Florbela exibia um intensidade dramática e uma surrealismo tenso que poucas vezes vemos no cinema nacional,  Al Berto quase nunca descola da superficialidade na construção das personagens, sem diálogos fortes, em que a poesia parece sempre metida a martelo.

Tem um ou outro bom momento de cinema (exemplo: a cena da procissão, quase em silêncio) que afasta o filme da mediocridade total, mas Al Berto é uma das grandes desilusões do ano do cinema português.


sobre o autor

Joao Torgal

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