European Art Cinema Day

por Arte-Factos em 16 Outubro, 2017

Celebra-se no dia 15 de Outubro o European Art Cinema Day, um dia que comemora não apenas o cinema europeu mas o cinema enquanto arte global: Uma arte única, que expressa sentimentos e ideias através de imagens, sons, arrebatadoras interpretações; que emociona, transforma o mundo e dá asas à imaginação. No Arte-Factos, encarámos a efeméride como uma celebração da multiplicidade de linguagens, ideias e visões, do poder agregador da ficção (ou da realidade) projectada na tela e da sétima arte enquanto veículo privilegiado de pedagogia, de património, de cultura e de intervenção social e política. Seria impossível, para cada um, escolher o melhor filme do mundo, por isso a equipa do Arte-Factos compôs uma lista de escolhas pessoais, alguns filmes de uma vida e que merecem ser revisitados. Cada um deles, à sua maneira, transporta consigo o que o cinema tem de melhor.

 

Cinema Paraíso (Giuseppe Tornatore, 1988) – A escolha de João Torgal

Pode ser cliché, mas é a mais bonita homenagem de sempre ao cinema, com cinema dentro do cinema e para o cinema. Entre a inocência e a decadência, o humor e o amor, a censura e a liberdade, a naturalidade e a melancolia. “Não resistas à nostalgia”, pede Alfredo ao jovem Toto no momento da despedida. Mas este é um filme profundamente nostálgico e de uma imensa ternura, tão típica num certo cinema italiano. E se, embalados pela lindíssima banda-sonora de Ennio Morricone, não verterem umas boas lágrimas em Cinema Paraíso, algo está mal com o vosso coração. JT

 

Recordações da Casa Amarela (João César Monteiro, 1989) – A escolha de José Raposo

Aqui começa a Trilogia de (João de) Deus. Titã caído em desgraça, vive roído por percevejos e crava dinheiro à Mãe. A musa Manuela de Freitas é a senhoria neurótica, no Benfica só querem é gajas e boa vida, a hortaliça é viçosa e temos uma Lisboa (magnífica abertura e uma Alfama agora distante) digna dum conto de fadas sem peneiras. Por entre a erudição das referências a Céline e a Murnau cabem Quim Barreiros e um diálogo de antologia após a marcha falhada. É o quê, meu subchefe? É um grande filme, o que é que querias que fosse? JR

 

Amour (Michael Haneke, 2012) – A escolha de Edite Queiroz

A obra-prima do austríaco Michael Haneke é um tratado sobre o envelhecimento e da morte (questões muitas vezes abordadas no cinema por meio de eufemismos poéticos), mas sobretudo sobre o amor enquanto único despojo que lhes pode sobreviver. Com duas interpretações monumentais de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva (desaparecida em Janeiro de 2017), o filme vive da sua abordagem intimista, da câmara quase sempre estática e da sua minuciosa direcção de actores, onde todos os gestos são pensados e cheios de significado, como o são as ausências, as palavras e os silêncios. Um exercício hipercomplexo na sua aparente simplicidade, Amour é um dos mais belos que o cinema viu nos últimos anos. EQ

 

Europa (Lars von Trier, 1991) – A escolha de João Pedro

“You want to wake up to free yourself of the image of Europa. But it is not possible.”

É com esta frase que termina Europa de Lars von Trier, um dos filmes mais subvalorizados da filmografia do realizador dinamarquês. Há toda uma aura de sonho ao longo de Europa, amplificada pelos efeitos visuais pouco convencionais e pela irrepreensível narração de Max von Sydow. Num filme maioritariamente a preto-e-branco em que abundam os simbolismos — abrindo-se a múltiplas leituras e interpretações —, von Trier conseguiu montar uma obra que escapa às classificações mas também às marcas do tempo. A frase não é dita por acaso: mesmo após os créditos finais, é impossível libertarmo-nos de Europa. JP


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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