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Não é preciso recuar muito no tempo para que a ideia de um festival de peso, como o Vodafone Mexefest, pudesse apostar forte num nome como Allen Halloween, nos parecesse no mínimo bastante improvável.
Desde que no ano passado o festival ganhou um novo espaço no renovado Cine-Teatro Capitólio, o hip hop e os seus derivados fincaram definitivamente raízes na avenida e por lá já vimos dos melhores rappers nacionais e internacionais. Ainda assim o nome do rapper de Odivelas, que saiu da obscuridade com A Árvore Kriminal em 2011, parece continuar a carregar consigo a sombra da marginalidade – a bruxa é uma peça que não encaixa nestes ambientes festivaleiros – mas é exactamente isso que torna Allen Halloween tão interessante seja qual for o cartaz em que esteja inserido e a prova foi um Capitólio cheio de fãs e curiosos na última noite do Vodafone Mexefest.
Entrada pujante com “Drunfos”, confiança de quem não precisa de guardar os hits para o final do concerto, seguida de “Zé Maluco”, duas histórias de trilhos de má vida, oportunidades perdidas e lições aprendidas, conselhos de um velho G às gerações que lhe querem seguir as pisadas das velhas All Star.
“O rap está vivo em Portugal” diz-nos sentado de olhos no público, onde sabe que está o futuro, “há gajos que dizem que fomos nós que começámos esta merda mas é mentira! Nós já estivemos aí desse lado e aposto que está aí um gajo que sabe o que está a gravar em casa.”
Incursões no passado de O Projecto Mary Witch com “S.O.S Mundo” e “Mary Bu” que ao lado de Híbrido, o último álbum do rapper, até podem parecer menos refinadas ou melódicas, mas parece ser essa crueza e essas palavras ásperas que fazem explodir ainda mais o público. Nem parece que já passou uma década desde que a bruxa cuspiu cá fora o fel de uma vida tortuosa, que muitos dos ali presentes estarão longe de imaginar.
Abranda-se o ritmo para três “unpluguetos” que deverão fazer parte do álbum acústico que o rapper vai lançar no próximo ano. Com Cyrillo na guitarra acústica, Allen pousa no colo a caixa de ritmos para uma das melhores versões a que Zeca Afonso já teve direito. A sua voz grave e arrastada traz-nos ao presente com um arrepio os fantasmas de “Cobradores de Impostos”.
“Bandido Velho” e “Livre Arbítrio” funcionam também muito bem neste formato, que nos permite uma maior atenção à palavra, com a última a ter direito a um “sermão” do rapper sobre essa dádiva que muitos de nós ignoramos – a capacidade de escolhermos o nosso próprio caminho.
Fechou-se a curta hora de concerto com a agressiva “Killa Me” e “Fly Nigga” já com toda a kriminal família em ebulição. “Estamos prontos para morrer aqui hoje” grita-se no palco “eu não estou não!” responde Allen, e dali saímos todos vivos e o rap português o mais vivo de todos.