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2017 foi um ano excepcional no que à edição nacional diz respeito. Pela primeira vez desde 2012 ou 2013, dei por mim a consumir mais música feita por cá, a maior parte em formato digital. Temos mãos cheias de novos projectos, que exploram caminhos sónicos por mapear, criam a própria linguagem e redefinem aquilo que poderá ser a nossa identidade musical futura.
Seleccionei os 10 discos que mais tocaram nos meus dias e que mais gozo me deu ouvir. Obrigada a todos por serem tão incríveis e talentosos <3
Sei pouco sobre ela, mas não faz mal. O que é importante descobrir é o lo-fi do it yourself desta Millennial (ou será Geração Z?), que agradece aos “piores pesadelos pela inspiração”. Com uma componente gráfica muito interessante, relata-nos as dores de crescimento, acompanhada da guitarra rasgada. “Que eu queria ser punk mas sou xunga”, ouvimos pelo caminho.
Embalou-nos com os seus doismileoito, mas Pedro Pode encanta-nos agora a solo e afirma o seu talento para a lírica. De voz sedutora, manda umas rimas (herança dos tempos do hip hop?) e junta-se à nova vaga de cantautores. Nos primeiros acordes de “Quim”, ouvimos: Cortaram-lhe as asas / Deram-lhe um turno / Das oito até aguentar / Comprou uma casa / Perto do emprego / Para não se atrasar / E não sonhou mais. Há quanto tempo não ouvia um retrato tão desolador e realista de uma vida como qualquer outra neste país à deriva.
Num registo mais folk e com laivos de música popular, Éme explora a ruralidade e a tradição portuguesa. Junta-se a este disco a Môxila com o seu cavaquinho compassado e que assina também a ilustração de capa. Na derradeira faixa, encantam em dueto com a sua versão de “Muito Eu Chorei Num Domingo À Tarde“, uma enternecedora modinha que Éme conheceu num documentário sobre tradição oral de Tiago Pereira e B Fachada.
A Amor Fúria, Companhia de Discos do Campo Grande, pode ter falecido (rip), mas a paixão retro de Manuel Fúria está bem viva. Em expedição arqueológica desencova os ritmos dançáveis da década de 1980, uma colecção que merece ser ouvida em festa de garagem de Domingo à tarde. O revivalismo e saudosismo pela idade da inocência permanecem centrais. Nota-se um encantamento maior com o sintetizador e batida seca.
Foi logo em Janeiro que Atila nos brindou com disco novo. O seu som podia ser banda sonora da série Dark (o Ben Frost antecipou-se, enfim), ou de um futuro distópico em que as sombras nos puxam para o abismo. Ao vivo, enriquece a textura musical com projecções que nos transportam nesta viagem arrepiante.
Foi uma das últimas descobertas do ano, dediquei-lhe a minha atenção quando alguém o anunciou herdeiro dos Pop Dell’Arte. São 8 temas com selo de qualidade Fábio Jevelim e Makoto Yagyu, dos melhores produtores nacionais, em que viajamos pelo psicadelismo alucinado em que o loop é rei. É daqueles discos a ouvir com o volume no alto e apanhar ao vivo o mais rapidamente possível, pois a festa e a vontade de dar à anca são garantidas. Lê aqui o Faixa-a-Faixa do disco. A que eu mais curto? “Quando eu era puto“.
Cânticos xamânicos psicadélicos, com loops de kraut e ginga matematicamente executada pelo baixo. Os 10 000 Russos têm a fórmula harmoniosa que faz tudo isto funcionar, traduzindo o caos controlado que a arte atravessa: não há fronteiras entre géneros, o contágio é essencial para que a expressão seja plena. “Europa Kaput” é um soco de realismo, o “sonho” morreu e agora é hora de reinventar o velho continente (e suas gentes).
O clássico do rock nacional completou em 2017 25 anos de edição. É batota incluir nesta lista? Talvez. Até pensei justificar a minha escolha com a reedição em vinil pela Rastilho. Mas, a verdade, é que este ano foi de redescoberta dos gigantes. E no caso das novas gerações, descoberta absoluta: numa tour que atravessou o país de lés-a-lés, miúdos que ainda nem tinham nascido em 1992 levaram bujardas de coolness de Adolfo Luxúria Canibal. “Lisboa”, “Marraquexe”, “Shambalah” e, claro, “Budapeste” são como o vinho do Porto e envelhecem com muita graça. Que aniversário tão bem celebrado.
As Pega Monstro estão cada vez mais plenas. A cada disco, crescem. Tocam melhor, escrevem melhor, projectam-se mais longe. São as mulheres mais admiráveis da cena musical portuguesa – quem nos dera que houvesse mais assim. Em “Casa Acima” falam sem complexos nem receio sobre a identidade feminina no mundo. Particularmente a “Cachupa“, é música para levar muitos retrógados às paredes, aqueles que acham que uma senhora não deve dizer certas coisas.
Seria um pouco estranho não estar no topo desta minha lista: desde que ouvi “Lo-fi Moda” pela primeira vez em Junho, percebi que o campeonato estava entregue e que seria impossível alguém editar disco mais sublime nos seis meses seguintes. Abandonaram o passado, esconderam-se nas sombras e renasceram transfigurados em plenitude com a vida contemporânea, digital, multidisciplinar e fugaz. O disco faz-se em 9 capítulos com vestígios de eletrónica e trap, na dose certa de experimentação e batidas metralhadas pelo sintetizador, embalando a crescente vontade de romper com a norma. São a banda mais punk de 2017, atreveram-se a reconfigurar as regras e comprovaram que vale a pena arriscar para elevar a arte. Mas há algo que não muda: mantêm-se críticos e inconformados como se apresentaram em 2012, questionam o estado das coisas. Letras enigmáticas disparadas por voz sem rosto – “paleio para abafar um beat chunga“?, numa linguagem própria mas rapidamente descodificada por quem a escuta: serão os Ermo reais, dróides vindos do frito futuro ou fruto das nossas psicoses que em palco se materializam? Na realidade, isso nem interessa, o que interessa saber é que “Lo-fi Moda” é um disco do c