//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Entrevistar um ídolo não é para qualquer um, há que disfarçar os nervos que fazem tremer a voz e travar aquela vontade de perguntar tudo o que nos vem à mente. Em 2017 entrevistámos 25 músicos, fotógrafos, produtores, agitadores culturais, ícones, novos talentos, nacionais e internacionais. Visitámos camarins, ultrapassámos a barreira do Skype, conversámos ao telefone, produzimos registos áudio, e mostrámos outra faceta daquelas pessoas a quem nos acompanha nesta viagem editorial. Partilho convosco as 10 afirmações mais memoráveis que li por aqui este ano.
A conversa com o vulto da música nacional passou, inevitavelmente, pelo disco “10.000 Anos Entre Vénus e Marte”. Descobrimos assim uma grande inspiração:
Em 76/77, quando escrevi o 10.000 Anos, estávamos na iminência de guerra nuclear como estamos agora. Havia uma predominância nuclear da URSS sobre os EUA, como agora… bem, toda a gente agora tem o poder nuclear. As coisas com este Donald Trump podem disparar de repente. A verdade é esta: assumi a ideia de que o mundo poderia ter tido uma Terceira Guerra Mundial em 1976, na qual o planeta desaparece, e um cosmonauta e a companheira fogem para o espaço e, através de uma viagem mais instrumental do que poética, voltam, na última faixa, como novos Adão e Eva, começando tudo de novo.
Ficou na memória uma bonita reflexão de PZ sobre o presente, a estrutura sócio-económica e o vício inexorável a que nos entregamos voluntariamente dia após dia.
Somos bombardeados continuamente com novos produtos que não precisávamos e agora precisamos e não podemos viver sem eles.
O brasileiro não é dos mais reconhecidos, especialmente fora da terra-mãe. Contudo, foi elo de ligação entre vários músicos e na sua passagem por Portugal, bem, não podíamos perder a oportunidade de conversar um pouco. Foi assim que esclareceu e nos impeliu a conhecer melhor a história da música brasileira:
Eu não sou tropicalista, não participei no Tropicália. Eu venho das canções mais tradicionais da música brasileira.
Anualmente, logo em Janeiro, Luís Salgado junta o melhor talento nacional e transforma o 4º piso do Maus Hábitos na festa de aniversário a que todos querem ir. Há um sentimento muito familiar na grande noite, apesar da multidão, que acaba por ser uma espécie de entrada oficial no novo ano. A chave do sucesso? O Salgado explica:
As pessoas sentem que a festa é delas e não de um gajo qualquer que faz anos.
Recentemente, em parceria com a Antena 3, Rui Portulez aventurou-se a documentar a edição independente em Portugal. Numa era em que produzimos cada vez mais e cada vez melhor, só nos falta conquistar uma última fronteira (mas já faltou mais):
O que falta à música portuguesa é consolidar-se como uma primeira escolha do público e dos media.
Não é um nome sonante, mas assina a identidade visual de discografia britânica histórica. Esteve no Porto e conversámos sobre a cena musical em que se envolveu na década de 90, e ainda sobre a floresta digital que nos cerca mas que foi semeada por nós próprios. Profundo, não é?
The great contradiction with today’s digital mindset is that it has brought people together but at the same time fragmented everything. I’m not sure if there is any escape from it. It seems to have evoked a primal instinct in us that we can’t let go of.
Em 2017, o disco “Mutantes s21” comemorou 25 anos de edição, o que motivou uma tour e presença nos principais festivais. Os fãs de sempre e os mais novos, que ainda nem tinham nascido na génese da banda, deliciaram-se com o que viram em palco, comprovando que Mão Morta pode não ser para todos, mas é eterno.
Somos de outra época, pareceria que eram gerações que não se tocavam, que não conseguiríamos conversar. E não, a realidade vem nos mostrar – para nosso grande contentamento – que continuamos a tocar minorias das gerações, é evidente, nós não somos uma banda de massas.
Tenho enorme respeito e admiração pelos Japandroids em palco, pela forma como envolvem o público na actuação. São dois amigos que adoram fazer música. Na passagem por Paredes de Coura, fizeram uma declaração de amor a quem os segue religiosamente. No fundo, confessaram aquilo que podemos esperar de todos os artistas: uma entrega ao mundo dos seus tesouros:
Damos as nossas melhores [músicas], não estamos a guardá-las para nós.
Somos daquela geração que não sai de casa sem música, especialmente quando a viagem é longa. A playlist certa tem o poder de moldar as memórias e as experiências vividas. Sarah Lipstate confirmou em entrevista que esta é uma experiência transformadora também para um artista, não apenas um hábito dos comuns mortais como nós.
Ouvir música enquanto viajo, especificamente de comboio, é um dos meus ambientes preferidos para ouvir música. Sinto que pode ser uma experiência verdadeiramente transcendente, que te permite apreciar a paisagem ainda mais, elevando-a.
O tempo cicatriza feridas mas não apaga a memória. Por outro lado, permite-nos olhar para o passado e rir. A propósito da edição do disco homónimo, Luís Severo recordou o momento em que esta webzine se cruzou com ele…
O primeiro contacto que eu tive com o Arte-Factos é uma forma engraçada de explicar isso mesmo. Estávamos em 2011, eu tinha dezoito anos e o Arte-Factos um ano. Depois de um concerto que dei na Flul, um jornalista desta casa escreveu uma review arrasadora a esse meu show pobrezinho, natural de um principiante. Entre muitas outras considerações exageradamente trocistas, o texto estabelecia comparações entre o suposto sofrimento das minhas canções e o sofrimento das vítimas do holocausto. Na altura, tanto eu como o Arte-Factos teríamos muito menos visibilidade do que hoje em dia. Além disso, ainda não germinava nem um pouco do crescente sentimento de justiça que hoje alguns chamam de ditadura do politicamente correcto. Moral da história: passaram 6 anos e todos evoluímos – eu aprendi a cantar e os artigos de opinião do Arte-Factos são agora muito mais sensatos.