Os Sinistro são cada vez mais um nome a ter em conta. O devido reconhecimento do seu trabalho e talento já se expande além-fronteiras, com uma presença cada vez mais assídua em cartazes de renome e qualidade pela Europa fora, e isso não é nada de estranhar, compreendemos perfeitamente o que origina essa atenção.

Se com o disco anterior determinaram o seu estatuto internacional, com o novo “Sangue Cássia” vêm confirmar que são mesmo bons demais para sermos só nós a ficar com eles. Temos que os partilhar. No final deste ainda embrionário 2018, quando andarmos todos a remexer e a recordar o que ouvimos para destacar os melhores discos do ano, certamente não nos esqueceremos dos Sinistro.

“Sangue Cássia” é um crescimento e um amadurecimento de um doom metal já muito singular, como o apresentado em “Semente”, onde se explora um pouco mais de experimentalismo e psicadelismo. Tudo de forma subtil, sem interferir na densa escuridão e na atmosfera pesada que sempre fez do colectivo Português um dos mais interessantes actos ambientais, sem esquecer ou colocar de parte todo o seu peso. A voz da já fixa e indispensável Patrícia Andrade ganha ainda mais protagonismo e soa ainda mais mágica: desde o tonzinho de fado, às narrações assombrosas. Até o mais doce tom nos assusta mas envolve. Não é o factor exclusivo na identidade da banda – senão o auto-intitulado de estreia não teria tanta qualidade quanto teve – mas é uma característica fundamental que complementa tão bem aqueles intensos, frondosos e pesadões riffs, e toda aquela atmosfera negra e cinematográfica.

Não é fácil destacar uma faixa deste conjunto, mas é bem mais fácil prever um futuro de sucesso crescente para os Sinistro. As letrinhas do seu nome ficarão cada vez maiores nos cartazes dos festivais por aí fora, mas talvez nunca cheguem a igualar o colosso que é a estranhamente reconfortante treva deste disco incrível.