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Inherent Vice
Título Português: Vício Intrínseco | Ano: 2014 | Duração: 148m | Género: Drama, Policial, Comédia
País: EUA | Realizador: Paul Thomas Anderson | Elenco: Joaquin Phoenix, Josh Brolin, Owen Wilson, Eric Roberts, Maya Rudolph, Benicio Del Toro, Reese Witherspoon

Depois de se aventurar nos meandros da indústria pornográfica dos anos setenta, Paul Thomas Anderson volta a explorar o mesmo cenário épocal, mas desta vez através da adaptação da obra homónima de Thomas Pynchon – um policial sui generis, considerado por muitos de difícil adaptação fílmica. Talvez por esta razão o  argumento escrito pelo próprio Anderson tenha demorado quase quatro anos a ser finalizado.

Situada em Gordita Beach em Los Angeles (uma cidade fictícia e atractivamente soalheiro), a trama narrativa segue os passos do detective/hippie (uma fusão deveras curiosa) Dock Sportello que, ao longo de quase três horas de filme, investiga três casos distintos; no deccorrer da narrativa eles unem num só e vão parar ao submundo do tráfico de drogas. Por detrás de uma superfície requintada e pitoresca da década de setenta, Inherent Vice evoca o luto do sonho hippie e  o surgimento do narcotráfico como um grande negócio de escala global.

 

Crítica ao filme Inherent Vice

 

Joaquin Phoenix dá corpo e alma ao protagonista, um detective super cool e fiel adepto de substâncias psicoactivas, uma interpretação muito sóbria do actor, que se desmarca das composições mais complexas dos seus trabalhos anteriores, mas mesmo assim consegue cativar. Falando em interpretações Inherent Vice é um autêntico viveiro de boas personagens secundárias, vividas por bons actores (Josh Brolin, Owen Wilson, Reese Witherspoon ou Benicio del Toro, nos casos mais flagrantes). No entanto, é a praticamente desconhecida Katherine Waterston que se destaca dos demais na pele da magnética Shasta, uma femme fatalle em versão hippie chic, ex-namorada do detective e a personagem-chave da narrativa.

Outro ponto de destaque é a forma como Anderson narra o decurso dos acontecimentos, escolhendo uma personagem secundária na obra literária (Sortilège, aparentemente a melhor amiga e apaixonada pelo protagonista) para exercer a função de narradora da história, um inteligente recurso metalinguístico que aufere uma carga melodramática e epopeica à história e enobrece personagem de Joaquín Phoenix na pele do herói.

Inherent Vice foi este ano quase ignorado pela Academia de Hollywood, sendo nomeado para melhor argumento original e melhor guarda-roupa, duas distinções merecidas mas que soam a injustiça, principalmente num ano relativamente apático no quesito de qualidade e de algumas injustiças. Anderson não criou (como já é habitual) uma obra que cumpre com os cânones adorados pela Academia, mas com Inherent Vice foi ainda mais longe. Se em Boogie Nights a fusão entre os géneros comédia e drama (e uma linguagem quase documental) agradou à Academia (não esquecendo o cunho autobiográfico), desta vez o resultado é um puro e politicamente incorrecto entretenimento, sem esquecer uma estética que remete aos filmes de série B da década de setenta.

 

Crítica ao filme Inherent Vice

 

Dono de um argumento ágil e interessante (um dos preferidos ao Óscar), é aqui que se pode encontrar o seu calcanhar de aquiles: o descortinar da acção revela-se algo confuso e atabalhoado para alguém que goste de sair da sala de cinema a entender tudo o que viu e a julgar-se uma pessoa incrivelmente inteligente e astuta. Inherent Vice torna-se algo manhoso e ilusório, que se esconde através de uma narrativa frenética incapaz de domar-se a si própria, não atingindo qualquer auge catártico. Mesmo assim, Anderson consegue mais uma vez justificar o porquê de ser considerado um dos melhores e mais originais realizadores norte-americanos da actualidade. Inherent Vice não engrandece a sua filmografia, mas também não a compromete, pelo contrário.

 

Crítica de Paulo Lopes


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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