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Foi com dois pés atrás que, finalmente, vi a biopic dedicada ao nome maior do grunge norte-americano. E passo a explicar o porquê da minha hesitação:
Porém, à medida que o Montage Of Heck se foi desenrolando, percebi que estava perante um registo documental muito interessante. Uma excelente antologia da vida e obra de Kurt, que dá rosto aos pais e às histórias da sua adolescência, e que nos fazem ver que nunca teve uma vida fácil – e que cedo deveria ter recebido ajuda pela falta de suporte familiar e pela turbulência emocional em que vivia. Sempre se sentiu um outsider, sem grandes ligações com aqueles que o rodeavam, o que o levou numa permanente busca pela felicidade e, infelizmente, apenas a encontrou nos caminhos mais sombrios da vida.
É uma belíssima antologia da sua obra e expressão artística, disso não há dúvida, mas não deixa de ser tão parcial como o documentário de 1998 Kurt & Courtney, em que se explorava a teoria de assassínio. Nem deixa de ser tão elogioso quanto o Last Days (2005) de Gus Van Sant, largamente inspirado nos dias que antecederam a morte de Cobain.
O que se destaca em Montage Of Heck é a enorme vontade de afirmar a genialidade de Kurt e em reforçar a sua desresponsabilização, tornando-o apenas fruto do incontrolável: os fantasmas que o assombravam. E se no tal documentário de 1998 o assassínio era comprovado como algo orquestrado, este biopic de 2015 deixa-me com a sensação de que houve assassínio não intencional da parte de todos aqueles que o viram a perder o rumo, mas não lhe estenderam a mão – dos pais divorciados que o empurraram de familiar em familiar em vez de procurarem a resolução da raiva constante, à editora que viu a estrela rock em perfeita degradação.
Seja como for, Montage Of Heck é um filme altamente recomendável, especialmente para os fãs quer de Nirvana quer da mística do rock ‘n’ roll. Vemos o rosto de Kurt e ouvimos as suas impressões sobre a vida que levou, concedendo um mais amplo entendimento da sua música. Diante dos nossos olhos, desfilam filmagens de quando Kurt era bebé, criança, adolescente e adulto; os seus famosos diários manuscritos e desenhos que ele próprio traçou agora animados; entrevistas à televisão e artigos de imprensa narrados – tudo impecavelmente bem conjugado e interligado.
Tragédia à parte, Kurt Cobain e os seus Nirvana deixaram um legado incrível e intemporal nos seus três álbuns de estúdio e naquele MTV Unplugged tão especial. E isso sobrepõe-se a tudo o resto.