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Cobain: Montage of Heck
Título Português: Kurt Cobain: Montage of Heck | Ano: 2015 | Duração: 145m | Género: Biopic
País: EUA | Realizador: Brett Morgen | Elenco: -

Foi com dois pés atrás que, finalmente, vi a biopic dedicada ao nome maior do grunge norte-americano. E passo a explicar o porquê da minha hesitação:

  • Kurt Cobain morreu numa época em que a informação nos chega em quantidades ingeríveis, o que resultou em inúmeros documentários, especiais televisivos e teorias de conspiração, que apenas saturam a memória;
  • Foi considerado a voz de toda uma geração e, consequentemente, frequentemente endeusado, quando eu apenas vejo alguém que nasceu muito talentoso e desperdiçou o seu dom;
  • Por se ter suicidado, é muitas vezes considerado vítima do seu próprio sucesso e do mediatismo, desresponsabilizando a toxicodependência e as escolhas de vida que tomamos – quanto mais não seja, a decisão que Kurt e familiares não tomaram de recorrer a ajuda especializada;
  • Aparentemente, saiu um memo (que eu não recebi) a ditar que já não é cool gostar de Nirvana, pelo que este documentário gerou demasiado escárnio e ruído um pouco por todo o lado.

Crítica ao filme Cobain: Montage of Heck (2015)

Porém, à medida que o Montage Of Heck se foi desenrolando, percebi que estava perante um registo documental muito interessante. Uma excelente antologia da vida e obra de Kurt, que dá rosto aos pais e às histórias da sua adolescência, e que nos fazem ver que nunca teve uma vida fácil – e que cedo deveria ter recebido ajuda pela falta de suporte familiar e pela turbulência emocional em que vivia. Sempre se sentiu um outsider, sem grandes ligações com aqueles que o rodeavam, o que o levou numa permanente busca pela felicidade e, infelizmente, apenas a encontrou nos caminhos mais sombrios da vida.

É uma belíssima antologia da sua obra e expressão artística, disso não há dúvida, mas não deixa de ser tão parcial como o documentário de 1998 Kurt & Courtney, em que se explorava a teoria de assassínio. Nem deixa de ser tão elogioso quanto o Last Days (2005) de Gus Van Sant, largamente inspirado nos dias que antecederam a morte de Cobain.

 

Crítica ao filme Cobain: Montage of Heck (2015)

 

O que se destaca em Montage Of Heck é a enorme vontade de afirmar a genialidade de Kurt e em reforçar a sua desresponsabilização, tornando-o apenas fruto do incontrolável: os fantasmas que o assombravam. E se no tal documentário de 1998 o assassínio era comprovado como algo orquestrado, este biopic de 2015 deixa-me com a sensação de que houve assassínio não intencional da parte de todos aqueles que o viram a perder o rumo, mas não lhe estenderam a mão – dos pais divorciados que o empurraram de familiar em familiar em vez de procurarem a resolução da raiva constante, à editora que viu a estrela rock em perfeita degradação.

Seja como for, Montage Of Heck é um filme altamente recomendável, especialmente para os fãs quer de Nirvana quer da mística do rock ‘n’ roll. Vemos o rosto de Kurt e ouvimos as suas impressões sobre a vida que levou, concedendo um mais amplo entendimento da sua música. Diante dos nossos olhos, desfilam filmagens de quando Kurt era  bebé, criança, adolescente e adulto; os seus famosos diários manuscritos e desenhos que ele próprio traçou agora animados; entrevistas à televisão e artigos de imprensa narrados – tudo impecavelmente bem conjugado e interligado.

Tragédia à parte, Kurt Cobain e os seus Nirvana deixaram um legado incrível e intemporal nos seus três álbuns de estúdio e naquele MTV Unplugged tão especial. E isso sobrepõe-se a tudo o resto.


sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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