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Não escondemos que muitas vezes preferimos salas intimistas e concertos mais despidos, mas há artistas que sempre estiveram destinados para as grandes arenas e Sam Smith é um deles. Na passada semana, acompanhado de uma banda de luxo e de um coro exímio, o londrino deu na Altice Arena um concerto-espetáculo onde os momentos grandiosos, como a dramática “Writing’s On The Wall”, nunca retiraram luz a canções que pediam mais silêncio, como a balada “Lay Me Down”.
Com apenas dois álbuns, Sam Smith é uma estrela inegável dentro dos intérpretes da pop soul actual. Talvez o tenha sido logo quando, em 2012, ouvimos pela primeira vez a sua voz de elasticidade invejável ao lado dos Disclosure, na voluptuosa “Latch”, que nos chega a meio da noite, quase irreconhecível assim despedida de electrónica. É, aliás, do conhecimento geral que terá sido o duo britânico o responsável pelo lançamento da carreira de Sam Smith, mas fica-nos a dúvida se não terá sido mais o contrário.
A estrutura do palco é bizarra, triangular com um vértice a irromper pela plateia e uma complexa pirâmide vertical na retaguarda, que pela noite nos vai surpreendendo com jogos de luz majestosos, com a capacidade de se abrir em flor revelando, já no encore, uma escadaria onde lá do alto Sam Smith oferece a um público estarrecido “One Day at a Time”. Parece aparato a mais certo? Mas acreditem que só pelo momento cinematográfico 007, de “Writing’s On The Wall”, que nos transportou directamente para o suntuoso universo Bond, valeu tudo a pena. “How fucking dramatic was that?!”, pergunta Sam Smith no final, da nossa parte “foi dramatic as shit Sam… obrigado!”.
O poderio da voz de Sam Smith, capaz de jogar tanto nos graves como nos falsetes, contrasta com a sua postura cândida. Falador, sorridente, saltitante, até nos custa perceber de onde nascem tantas canções tristes. O próprio reconhece que os seus temas são demasiado depressivos, mas nem isso o impede de pedir mais alguma melancolia emprestada a Lauryn Hill, na versão de “His Eye is on the Sparrow”, colmatada por novo empréstimo aos Disclosure, com a dançante “Omen”, que faz levantar a plateia.
As cadeiras na plateia, embora tenham dado um aspecto ordenado aos actos mais contemplativos da noite, pareceram em outras alturas empecilhos para um público que se queria entregar ao momento. Ainda na temática “cadeiras”, noite feliz para os seguranças de palco, para além de terem de supervisionar um público que à partida não iria levantar quaisquer problemas (vimos desfilar muitos mais copos de gin do que cervejas), é a primeira vez que vemos filas de cadeiras, com aspecto bem confortável, dispostas em redor do palco para a segurança.
Lisboa é a última paragem desta digressão que apresentou The Thrill of It All Tour, do passado ano. É por isso uma noite especial, de despedidas agridoces. Percebe-se o carinho com que Sam Smith apresenta um a um os elementos da banda e coros, são aliás mais as vezes em que o vemos misturar-se pelo meio de todo o talento deste palco dinâmico (houve até coreografias de grupo com Reuben James a roubar por completo o momento em “Restart”, com o seu piano de correia e pés deslizantes), do que aqueles em que brilha a solo.
É também uma noite especial, como o próprio nos recorda, porque é o seu primeiro concerto a solo em Portugal e porque ao cruzar da meia noite vai celebrar por cá o seu vigésimo sexto aniversário. E esta terá sido seguramente uma noite singular para todos os presentes, que ao abandonar a Altice Arena não estariam bem seguros de terem assistido a um concerto ou se transportados para dentro de um filme. “We’ve been so lost lately, we forgot who we are”.