Reportagem


VOA – 1º dia

No primeiro dia do VOA na nova localização, o doom metal foi rei e senhor num final de tarde abrasador.

05/08/2016


No primeiro dia do VOA na nova localização, o doom metal foi rei e senhor num final de tarde abrasador. E após uma mudança de local envolta em polémica, o festival provou estar de pé e imune a todas as críticas.

Pelas 17h45, os alemães Mantar já tocavam, ainda que para um público reduzido. São uma banda recente, formados em 2012, mas a ganhar cada vez mais terreno junto dos amantes da música pesada. Tocam um sludge metal a roçar o black metal, uma mistura inusitada mas explosiva, que fez deles um dos nomes mais aguardados desta edição. Têm dois registos de estúdio que percorreram dentro do tempo possível.

A esta hora o sol ainda é forte, o que leva o vocalista e guitarrista Hanno a queixar-se disso mesmo, dizendo que não consegue ver as cordas da sua guitarra. No público também não se está muito melhor, dada a incidência do sol. Hanno introduz “Era Borealis” como uma faixa dedicada a todos os metalheads de Portugal. O som convida ao headbang e o público, que vai crescendo, responde de feição. Fecham com “White Nights”, um concerto sólido mas bastante prejudicado pelo horário.

Mantar

Mantar

Pelas 19h15 e ainda com um sol na sua plenitude, um dos nomes mais sonantes do doom metal sobe a palco, os suecos Katatonia. Abrem as hostes com a conhecida “July”, do aclamado The Great Cold Distance. Segue-se “Deliberation”, do mesmo disco. Para estes veteranos o tempo também é escasso e tocam o que podem do registo mais recente, intercalando-o com alguns dos seus maiores sucessos. Jonas Renkse, vocalista, anuncia que têm novo álbum, intitulado The Fall of Hearts e daí tocam “Serein”.

“Are you waiting for Anathema? Opeth? Oh, thank you. But we are still here.” E após este diálogo com o público, surge o primeiro problema técnico, que demora escassos momentos a resolver. Continuam o sunset de doom com “Hipnose”.

“My Twin” é a mais reconhecida pela maioria do público, o que granjeia um momento mais efusivo. Palmas a acompanhar a batida e algumas cantorias, ao se ouvir ao vivo a mais icónica canção desta banda. Sem grandes conversas, passam a bola para “October”, até porque o tempo de que dispõem vai rareando. Ouve-se mais uma amostra do novo álbum com “Old Heart Falls”, e com “Nephilim” voltam de novo ao passado, terminando com “Soil’s Song”, a fechar em glória. Concerto de luxo, apesar de alguns problemas de som, não fosse Katatonia já uma banda afirmada dentro do género e exímia no que faz.

Katatonia

Katatonia

Antes de Anathema, muitos foram aqueles que aproveitaram a meia hora de intervalo para jantar, o que se tornou uma tarefa hercúlea, dado a extensão e demora das filas. As bancas de restauração eram muito escassas, ao invés daquelas que vendiam merchandising. Talvez o ponto mais negativo do festival a par da falta de sombras e caixas multibanco, algo que se espera melhorado na próxima edição.

A banda britânica é, no entanto, recebida por um público extenso e atento. O concerto não dá azo a grandes movimentos, além da contemplação. Em “Natural Disaster”, Vincent Cavanagh pede a todos que liguem as lanternas do telemóvel e assiste-se a um momento de calmaria e paz naquilo que se espera ser um festival de extravasão. O concerto termina com um dos hinos da banda, “Fragile Dreams” anunciado por Cavanagh como o remate final da noite e com a promessa de estarem de volta em 2017. O headbang volta a dominar e ninguém fica indiferente a esta faixa menos calma da banda que já conta com 26 anos de carreira.

Anathema

Anathema

Os Opeth, nome maior deste primeiro dia, tinham todas as atenções viradas para si e isso viu-se na multidão que se acercou perto do palco. A primeira faixa, “Cusp of Eternity”, vem do álbum mais recente, Pale Communion e é de imediato bem recebida. “The Devil’s Orchard” arranca com efusivos headbangs. Mikael Åkerfeldt começa com os primeiros discursos da noite, dizendo que a banda está ali para nos entreter. Introduz a seguinte como a música mais calma que já fizeram. Falamos de “Heir Apparent”, do álbum Watershed e uma das faixas mais queridas da banda. A potência dos guturais de Åkerfeldt é aqui posta à prova e, como sempre, não desaponta. E se há coisa que os Opeth fazem melhor é ser camaleões entre o som ríspido e o límpido.

Åkerfeldt é um comunicador nato e isso reflecte-se em cada pausa entre canções. Tem o dom de ser natural, fazer rir e por vezes chega a exagerar com tanta conversa. Diz-nos que tem uma informação importante para nos dar e após um momento de silêncio diz que o seu bigode está maior que nunca, provocando gargalhadas no público. Segue-se a seriedade com “The Drappery Falls”, outro regresso ao passado, neste caso a Blackwater Park, datado de 2001.

Opeth

Opeth

A noite vai-se alongando entre viagens a discos anteriores, com a quase baladesca “To Rid of The Disease”, de Damnation, ou a épica e intemporal “Demon of the Fall” que recua ainda mais, ao álbum de 1998, My Arms Your Hearse.

Para o final ficam dois marcos na carreira da banda. A diabólica “The Grand Conjuration”, que nos remete ao talvez mais bem sucedido álbum dos suecos, Ghost Reveries e “Deliverance” que fecha em beleza, mostrando que por quantas vezes que cá vierem, são uma das bandas com um público fixo em Portugal, que nunca lhes vai falhar.

Galeria


(Fotos por Paulo Tavares)

sobre o autor

Andreia Vieira da Silva

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