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No final, só vence a perseverança se celebrarmos todos juntos.
Os Baroness passaram por Lisboa para festejar essa coisa estranha que nos faz ir a concertos regularmente e precisar tanto de música como do ar que respiramos. A mesma coisa estranha que faz com que não mandemos chefes e colegas de trabalho para sítios mais feios que Fernão Ferro e não tenhamos um aneurisma antes dos 30.
Mais uma vez vítimas de infortúnios em plena digressão europeia, os Baroness provaram ser uma das bandas mais resilientes da nossa praça. Se não foi um grave acidente de viação, no Verão de 2012, a colocar termo à banda, quando esta se preparava para mais um concerto em Inglaterra, não seria certamente a súbita ausência do baterista a poucos concertos de terminarem a actual digressão a ditar que estes acabariam por não acontecer. Contudo, antes de John Baizley, a recém recrutada Gina Gleason (curiosos para escutar uma voz feminina no próximo disco?) e Nick Jost subirem ao palco, houve devastação com os não menos firmes Process of Guilt.
Com Black Earth, do ano passado, ainda a arrefecer, os Process of Guilt surgiram em palco à hora marcada. E se entre o público alguém se perguntava “Outra vez Process of Guilt?”, bastaram as primeiras duas malhas para invalidar tão ingénua observação. Nome maior do metal nacional, fizeram soar os seus 5150’s, agora com maior ênfase na dissonância, e nem uma troca de baixo a meio da segunda música foi capaz de sabotar a envergadura colossal daquelas avalanches de distorção. A banda encontrou o seu próprio trilho em 2009, com o desmedido Erosion, e desde então, entre um split com os suíços Rorcal e Faemin– provavelmente, o ponto mais determinante da sua carreira—, tem continuado a amadurecer e explorar uma identidade cada vez mais vincada. Mais do que qualquer um dos discos anteriores Black Earth cresce exponencialmente ao vivo, ganhando expressão com os Process of Guilt mais dinâmicos e fluídos que já vimos. O quarteto não se cansa de empurrar o rochedo colina acima — porque tem de ser —, mas o ímpeto da sua música contínua a sugerir inconformismo. Profissionais e eficazes, venham de lá mais “outras vezes”.
A terra negra dos portugueses deu lugar ao bacanal colorido da discografia dos Baroness, que desta feita nos surgiram num formato semi-acústico. Tendo adotado uma postura ligeiramente diferente depois do supracitado acidente, Purple, disco de 2015, vem celebrar a comunhão e a vida. Foi nesse registo de festa e boa onda que visitaram Lisboa pela primeira vez há dois. A respeito dessa data, confessou-nos Baizley, “Eu sei que acham que nós dizemos sempre isto, mas esse foi mesmo um dos nossos concertos preferidos.” Os elogios não ficariam por aí, com o vocalista, guitarrista e mentor do projecto a sentir-se na obrigação de ser mais comunicativo e de justificar os arranjos acústicos arquitetados à última da hora — que resultaram melhor do que seria de esperar dadas as circunstâncias.
O resto é história, e poderia ser jargão pseudo-jornalístico se eu e quem estiver a ler isto estivéssemos para isso. Mas, vá, por questões arquivo, sublinhe-se que o alinhamento se focou exclusivamente nos últimos dos discos, com momentos particularmente altos logo desde o início com “Foolsong”, seguida de “March to the Sea”, “If I Have to Wake Up”, que mereceu uma introdução explicativa e dedicatória ao público diligente e incansável, “Chlorine and Wine” e, claro, o épico que fecha Yellow & Green, “Eula”.
O grande triunfo dos Baroness não foi terem sobrevivido a uma queda de não sei quantos metros a bordo de um autocarro. Isso foi sorte. Os Baroness são um monumento à resiliência contra todas as adversidades em formato de banda de rock, e no final — permitam-me o momento Gustavo Santos; flagelar-me-ei mais tarde — voltaram ao palco para nos relembrarem que o mais importante nesta brincadeira toda são as pessoas de quem gostamos e os bons momentos que passamos juntos.