Reportagem


Rock In Rio

Uma homenagem abençoada pela chuva

Parque da Bela Vista

29/06/2018


© Rock In Rio-Lisboa

Depois da pausa para uma semana de trabalho (ou talvez de férias para alguns), o Rock in Rio-Lisboa regressou para os seus derradeiros últimos dois dias. Quem resolveu regressar também foi a incómoda chuva, que começou a cair bem perto da hora em que os concertos iriam começar.

Naquele que, pelo alinhamento, se revelava como o dia desta edição do festival mais dedicado a bandas e músicos de culto, o primeiro a subir ao palco foi Manel Cruz. No palco Music Valley o carismático músico português fez-se acompanhar por uma banda bem coesa e, no repertório, trouxe-nos não só músicas novas como também revisitou projectos como Foge Foge Bandido e Pluto, com músicas como Borboleta ou A Canção da Canção Triste, que mostraram estar bem presentes no cancioneiro dos fãs do músico portuense. No entanto, a maior ovação e entusiasmo veio quando Manel Cruz, já em tronco nu, disse que tinha uma prenda para todos os presentes e os primeiros acordes de Capitão Romance, dos Ornatos Violeta, se fizeram soar. O carisma natural do artista e o seu bom humor foram sempre visíveis, especialmente quando convidou todos a “beber finos” depois do concerto no seu camarim, encomendando à produção “1000 cervejas e 1 Ice-tea”.

Ainda o concerto de Manel Cruz não tinha terminado e já os primeiros acordes de James podiam ser ouvidos vindos do Palco Mundo. A banda britânica, que conta com muitas ligações ao nosso país, abria assim o dia no palco principal do festival. Um concerto bem emotivo e com um sentimento de revivalismo que pairava no ar, especialmente quando se ouviram músicas como Getting Away With It, Sometimes ou Laid. As músicas mais recentes tiveram naturalmente uma recepção morna mas os temas eram recorrentes e políticos, com bastantes críticas à administração de Trump e não só, com o concerto a terminar com o guitarrista a mostrar uma t-shirt a criticar o Brexit, ao mesmo tempo que gesticulava de forma a mostrar que devemos estar todos unidos.

Com a chuva a dar uma folga foi tempo de regressar ao palco Music Valley, numa altura em que os Capitão Fausto já estavam no palco, fazendo-se acompanhar por Luís Severo. Continuando a comprovar o prestígio que a banda de Alvalade já tem, a audiência estava bem composta e pronta para ouvir Sempre Bem (novo single da banda), Amanhã Tou Melhor ou Alvalade Chama por Mim. Quem também já começava a chamar por nós no Palco Mundo eram os Xutos & Pontapés, naquele que prometia ser um concerto único e bastante emotivo.

A ocasião tinha toda a pompa e circunstância, contando com as maiores figuras do Estado Português como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Primeiro Ministro, António Costa ou o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, numa pensada e sentida homenagem a Zé Pedro, guitarrista da banda e ícone do Rock nacional falecido em Novembro passado.

O concerto da banda foi marcado por momentos bem emotivos e em que a voz de Tim acabou por tremer um pouco, em especial na introdução de músicas como Mar de Outono – música nova que fará parte do próximo álbum – e Não Sou o Único. A chuva entretanto foi voltando a aparecer e intensificou-se num dos momentos mais especiais da noite, onde um vídeo mostrou Zé Pedro a tocar a sua célebre introdução de Para Ti Maria, ao vivo no Restelo. Aí choveu forte e pareceu quase que de uma mensagem do Zé se tratava, visto o ritmo e o intensificar dos acordes da guitarra de Zé Pedro coincidir com o ritmo e intensificar da chuva. O concerto acabou por terminar com A Minha Casinha e com muita gente em palco. Entre muitos ilustres lá estava o Presidente da República, o qual Tim  confessou ter tido um papel de extrema importância naquela homenagem que ali fora feita à vida e carreira dos Xutos & Pontapés e em especial de Zé Pedro.

Depois da devida pausa para jantar e da tentativa de enxugar as roupas – não mais que mera tentativa – depois daquele autêntico dilúvio, esperava-nos o concerto dos The Killers. O concerto abriu com um disparo de confetis e o novo single The Man, mas foi ao som de músicas mais antigas que o público realmente vibrou. Especialmente aquelas que nos transportaram para os primeiros álbuns, como Mr. Brightside, When We Were Young ou All These Things That I’ve Done que levou o público a cantar em coro “I’ve got soul but I’m not a soldier”.

A noite terminou ao som da electrónica dos britânicos The Chemical Brothers que se fizeram acompanhar por um espectáculo de vídeo e luzes bem impressionante que ajudou a levar à apoteose quando músicas como Go, Galvanize ou Hey Boy Hey Girl se fizeram ouvir.


sobre o autor

Joao Neves

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