//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Braga recebeu recentemente um dos espectáculos mais aguardados da temporada: o primeiro de quatro concertos, em Portugal, por parte das The Raincoats, mítico grupo da vaga de irreverência criativa que se sucedeu à força em bruto do punk. Da formação original, veio a nossa Ana da Silva (de naturalidade madeirense), a também fundadora Gina Birch, e ainda Anne Wood, que se entrega ao violino e se reveza noutros instrumentos; curiosamente, um alinhamento sem perspectiva de percussão à vista.
É claro que este reencontro não é inédito na história das Raincoats. Já não estava previsto que continuassem depois do primeiro disco, homónimo de 1979, e poderia teria sido Moving, o terceiro registo e já depois de editarem Odyshape, o capítulo final desta história. Mas foram, várias vezes ao longo dos anos seguintes, sendo (re)descobertas por várias gerações, a propósito de Kurt Cobain, dos Nirvana, ou do poder arquivista da internet, e editaram um último disco, Looking in the Shadows, em 1996. E todas as reuniões entretanto puseram à prova tanto o seu legado, como a atitude destas senhoras em relação à sua discografia. Na noite de ontem inevitavelmente contrastámos esta mesma música, no presente, com o seu brilhante passado.
A sala já havia sido aquecida pelo concerto dos Dear Telephone, em apresentação do novo Cut, e o público, distribuído de forma heterogénea sobre várias gerações, compôs a blackbox do gnration que já se sabia estar esgotada. As senhoras chegam a palco e rapidamente se nota terem o público na mão: muitos aplausos e sorrisos, cumprimentos carregados de cumplicidade e carinho mútuos, e muita curiosidade quanto ao que nos traria esta noite (até porque, a dada altura do dia, se temeu que Gina não pudesse comparecer ao concerto, por motivos de saúde).
Mal as senhoras se atiram às suas canções, num alinhamento que percorreu maioritariamente esse primeiro disco, constata-se a impossibilidade de recriar a pujança, o volume e a energia dessoutros tempos — aqui, também a falta de um elemento percutivo terá contribuído para um concerto mais contido — mas revela-se, por entre os coros estridentes em No One’s Little Girl, de Moving, ou quando, comandadas por Birch, passaram pela Feminist Song (uma canção não editada sobre a impossibilidade de não se afirmarem feministas no seio da nossa sociedade) uma certa inocência na execução que é absolutamente definidora do percurso histórico destas Raincoats, que se reinventaram sucessivamente nos cinco anos dos seus primeiros três discos. Cientes das suas limitações técnicas e de alguma falta de acerto, aos quais reagiam com tímidos sorrisos, ainda assim seguem em frente: gritam, reivindicam e encantam. A sua força está na vontade da sua entrega. Não são as Raincoats de outros tempos, é certo, mas são Raincoats que cabem ainda nestes tempos. E depois disto, não as imaginaríamos doutra forma.
em breve, a entrevista realizada com Ana da Silva, no dia do concerto em Braga.
Interesso-me por muitas coisas. Estudo matemática, faço rádio, leio e vou escrevendo sobre fascínios. E assim o tempo passa. (Ver mais artigos)