Reportagem


Vodafone Paredes de Coura

O balanço da 26.ª edição do festival minhoto

Praia Fluvial do Taboão


© Hugo Lima

Chegou a hora de fazer as contas finais à 26.ª edição do festival que desde 1993 faz aumentar exponencialmente a população de Paredes de Coura, transformando-a numa montra do saber-fazer de festivais em Portugal. Mais de uma semana de microclima courense (que este ano não trouxe a maldita chuva), de idas ao rio para ouvir o Jazz na Relva ou assistir a declamações de poesia – ou aturar idiotas com colunas Bluetooth a passar lixo ou a embebedarem-se logo ali à tarde. De copos no Xapas e demais cafés e bares antes de concertos na subida do festival à vila (tão bem ficaram Fausto Bordalo Dias e Chico Buarque no final do set de Cumbadélica), depois de uma vitela assada no Furão e de uma fart-, bomba calórica ali nas barracas, com ou sem jogatana de air hockey.

Longe vão os tempos das lojas fechadas a ferrolho na vila por causa dos “arruaceiros do festival”; a Paredes de Coura de 2018 não vive sem o certame, nem sequer as velhinhas dos prédios da Rua Conselheiro Miguel Dantas. E ainda bem.

Vimos as estreias (e antes de se tornarem em Agora Já Todos Gostam) de Marlon Williams, Big Thief e Lucy Dacus e com eles torturámos as almas e abanámos a anca, com ou sem distorção. Abanámos a ossatura com The Blaze e as repetições de Jungle, colidimos arcaboiços em Shame e …Trail of Dead e mergulhámos alto (!), sempre mais alto com Neil Halstead, Rachel Goswell e sua rapaziada.

Não houve Björk? Veio o cosplay de Japanese Breakfast. Houve histórias de brutal superação das dificuldades da vida com os Dead Combo e Mark Lanegan e a completa transcendência do reencontro (não nos ocorre melhor palavra) com os “filhotes” Arcade Fire. E ainda nos interrogamos sobre Pussy Riot (mas já sacámos a malha que fala d).

Porque um dos grandes desta vida certa vez escreveu que Paredes de Coura não é um amor de Verão (frase agora imortalizada em banco de jardim), colocamos as garrafas de cerveja (artesanal, podendo) a esfriar no rio e miramo-nos, que nem Narcisos do Taboão, como operacionais da galhofa. E deixamos passar o tempo até à hora de entrar no recinto.

A relva do anfiteatro natural tem agora um ano de descanso pela frente, que as grandes formações de convivas (e de, credo, festivaleiros) regressam agora à labuta, servindo as edições de boas memórias em dias de merda de frio ou de chatices várias – umas inevitáveis e outras causadas por imbecis. Hélas, que ainda falta um ano.

Se o cartaz ajudar, lá estaremos todos, incluindo a equipa Arte-Factos. Sabiam que o palacete de Mantelães foi propriedade do Conselheiro Miguel Dantas e que foi albergue de presidentes da República (Bernardino Machado)?

Contas finais:

i) Campeões de Paredes de Coura 2018: …And You Will Know Us By The Trail Of Dead; Arcade Fire; Big Thief; Slowdive; Shame; Lucy Dacus; Dead Combo/Mark Lanegan; Lucy Dacus; Fleet Foxes; Conan Osiris; Kevin Morby. A meio caminho: King Gizzard & The Lizard Wizard.

ii) Menções honrosas: Japanese Breakfast; DIIV; The Blaze.

iii) Para continuar: farturas porreiras na vila; várias opções de pizza no recinto (tragam o Frank Pinello em 2019); cartazes relativamente equilibrados e atentos ao que se vai passando por aí (antes uma chonice rockeira do que refugo do NME); a quase ausência de chatos com cães insufláveis e demais penduricalhos que tinham piada nas edições de há dez anos (o “foda-se” mantém-se ubíquo no campismo?), mas que agora são insuportáveis. E, claro, a gloriosa equipa do Loureiro.

iv) Para nunca mais voltar: acéfalos dos cartazes que também não se calam nos concertos. As bandas estrangeiras mal sabem português e os vossos cartazes não têm piada.

v) Regressos que queremos: caracóis no Loureiro ou no Leira de Cima, em nome de quem mal teve tempo de os comer este ano (nosso caso).

vi) Gostávamos de ver por lá: My Bloody Valentine; The Hold Steady; Pissed Jeans; Bob Mould; The Men; Jozef Van Wissem; John Moreland; Sleep (sim, metal de jeito não faz mal nenhum); Pop Dell’Arte; grande regresso de Boucabaca, não obstante o conflito de interesses; Nel Monteiro (não estamos a gozar); Kangding Ray; John Prine; Clark; Kamasi Washington; Action Bronson; Slapshot; Sharon Van Etten.

Até para o ano.


sobre o autor

José V. Raposo

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