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Quem nunca pensou em largar amarras e vaguear meio mundo sem destino? E quem nunca se serviu da música para viajar a lugares longínquos? Drifter, segundo álbum dos First Breath After Coma, tem esse condão de nos guiar por terras inóspitas. E se, num profundo fôlego, fecharmos os olhos e nos deixarmos levar, conseguimos mesmo imaginar a aridez e beleza impiedosa da distante Tierra del Fuego, com todos os seus mitos e sonhos despedaçados de antigos navegadores.
A aventura e a descoberta foram, aliás, temas abraçados logo ao álbum estreia The Misadventures of Anthony Knivet, que em 2013 lançava os leirienses na sua própria cruzada na música portuguesa, calorosamente recebida pelos muitos fãs devotos e agora chegada à, sempre difícil, prova do segundo álbum. Neste ano em que tanto se tem falado de amadurecimento e crescimento nos novos trabalhos de algumas bandas portuguesas, os First Breath After Coma também não são excepção, e Drifter soa-nos mais intrincado e profundo que o seu antecessor, numa composição meticulosa onde nenhum arranjo foi deixado ao acaso.
“Salty Eyes”, escolhida para single de apresentação, é também a faixa que abre este disco depois de uma pequena intro. É possivelmente a sua música mais radiofónica, bem delineada e com picos certeiros de emoção que agarram o ouvinte à primeira audição. “Gold Morning Days” mantém-nos nessa mesma sensação de optimismo, mas é em “Blup” que sentimos que pela primeira vez as águas se agigantam, no poderoso crescendo instrumental final que desagua no delicado interlúdio “Petrichor”, onde o gotejar latente nos traz esse cheiro a terra molhada e as promessas de renovação das primeiras chuvas.
A bucólica “Dandelions” abre caminho para uma das mais belas composições deste disco, “Nagmani”, que contou com a participação do compositor André Barros, é como um novelo de arranjos harmoniosamente entrelaçados que vamos desfiando desde o piano pertinente até ao desfecho triunfal dos sopros. Ainda nas participações, Drifter contou com Noiserv em “Umbrae”, faixa que nos leva pela primeira vez a lugares mais sombrios, um registo que nos deixa vontade de ver ser mais explorado no futuro da banda de Leiria.
Por fim chegados a terras da América do Sul, “Tierra Del Fuego: La Mar” e “Tierra Del Fuego: Nisshin Maru” não negam a forte ligação ao pós-rock nos seus instrumentais apoteóticos, onde as guitarras nos recordam essa banda que em boa hora inspirou a música e o nome dos First Breath After Coma (e que este ano também nos surpreendeu com o muito aguardado novo álbum “The Wilderness”, falamos claro de Explosions In The Sky).
“Drifter” é algo ou alguém que vagueia pelo mundo em busca de qualquer coisa que não encontra raízes e não há nada de mais errante que a própria natureza, e este álbum está impregnado dela. Se assim como um dente de leão, que se perde no vento, também nós atravessássemos os sete mares até chegar ao fim do mundo, dificilmente encontraríamos melhor banda sonora como companhia.