A música pesada ainda está de luto com a chocante partida de Warrel Dane, uma das suas mais singulares vozes e, além do incontornável legado de Nevermore e Sanctuary, chega agora “Shadow Work,” um novo trabalho a solo póstumo, que vem servir de homenagem e despedida, além de ser uma descarga de boa música, orientada pela grande voz inconfundível que sempre distinguiu Dane de outros.

“Shadow Work” é um trabalho que não consegue escapar à melancolia, quando sabemos que era o disco em que Dane trabalhava até à altura da sua morte, e que acabou reduzido a metade do tempo que era planeado. No entanto não está aqui nenhuma manta de retalhos, de ideias soltas, de faixas lançadas por obrigação. Está aqui um conjunto muito sólido que, além de pegar por onde ficou o seu muito subvalorizado “Praises to the War Machine,” também traz alguns dos fortes elementos progressivos, thrash, power, uma fúria que se mistura com a angústia pessoal – quem se lembra de “Brother” ou “Your Chosen Misery” do seu anterior registo a solo? – e grandes canções que nem ficariam deslocadas em alguns dos melhores álbuns dos Nevermore.

Para além de se encontrarem temas mais pesados que no seu anterior registo a solo e até alguns com mais ambição – “Mother Is the Word for God” é o épico tema progressivo que os Nevermore ainda não tinham lançado – que as canções directas nesse disco, não há como não salientar o quão impecável e no ponto ainda estava a voz de Warrel Dane até ao momento em que, infelizmente, teve que se silenciar para sempre. No seu sempre associável tom grave e dramático, em todas as canções se ouve um Warrel cheio de garra e energia. Porque além do nó no estômago que se dá ao pensar que agora é que realmente os Nevermore não se reúnem mais, também há a tristeza ao ouvir isto e notar que Dane ainda tinha tanto para dar. Mas é um tremendo trabalho que ninguém daria por incompleto. Os legados de Nevermore e Sanctuary permanecerão sempre intocáveis, mas este “Shadow Work” é uma excelente despedida. Que descanse em paz.