Reportagem


Hozier + Suzanne Santo

Lisboa gritou Hozier

Coliseu dos Recreios

11/11/2018


A chuva não deu tréguas durante o domingo que marcaria o início da digressão. O Coliseu de Lisboa enchia-se aos poucos, abrigando-nos do frio de Novembro, e os lugares sentados, montados no centro da sala, sugeriam-nos uma noite tranquila. Não sabemos, se a decisão foi forçada, mas a verdade é que o Coliseu não correu perigo de encher e uma multidão organizadamente espaçada sempre dá a sensação de sala preenchida.

Hozier trazia consigo a força dos seus singles mais repetidos nas ondas da rádio. Do novo EP, não saberíamos dizer que impacto teve. “Nina Cried Power” emproa a nova coleção de canções, mas parece-nos longe de renovar a curiosidade em relação ao músico irlandês teve com “Take Me Church.” No entanto, ao vivo, é impossível negar-lhe o sucesso.

Mas já lá vamos.

O espéctaculo começou horas antes de Hozier entrar em palco. Coube as honras à extraordinária Suzanne Santo que no seu power suit e chapéu de abas conquistou o público pelo humor. “How is everyone doing? I’m Hozier,” começava.  “I never played in Portugal. Not a day in my life. First time ever.”

Tocou um set curto, de meia hora, daquilo que descreveríamos como o que aconteceria se a Jessie J tivesse optado por emprestar a sua voz à folk e ao blues e tocasse violino. Sempre comunicativa, teceu vários elogios ao pouco do país que teve oportunidade de ver e, de igual modo, deu-nos também a conhecer o suficiente para querermos ouvir mais. “Blood On Your Knees” tem estado em rotação por estes lados, mas não há nenhuma escolha errada no reportório de stomping blues da artista. Quando a certa altura um membro do público grita “Wonderwall” a artista responde com um irónico: ‘yeah, “Wonderwall.” And after, “Free Bird,” and this is your fault, not mine.’ Da nossa parte começamos logo a procurar pelo peditório para a trazer cá. “ We’ll see you around,” despedia-se a cantora que meros minutos voltaria a palco para se juntar à banda do artista da noite.

Suzanne Santo

Suzanne Santo

Então, Hozier 

O nosso artista mais “#woke” do momento entra em palco cheio de coragem. Dizem as regras não oficiais desta coisa da música ao vivo que é importante começar com o segundo melhor tema que seja mais mexido: agarra-se logo o público e deixa-se o melhor para o fim. Hozier começa por “Like Real People Do,” que é um pouco como “Cherry Wine,” mas com mais instrumentos e não tão boa. O que evidencia duas coisas. A primeira é que os fãs de Hozier já estão convertidos em devotos e que, segundo, há muito bom artista que gostaria que o seu maior single estivesse ao nível das “não tão boas” do catálogo do irlandês.

E sem cerimónias ouve-se “Nina Cried Power” acompanhada do som das centenas que ao primeiro acorde se levantaram para não mais voltarem às suas cadeiras. O músico já faz o que quer. A sua carreira é curta, mas já lhe granjeou um alinhamento que é imune a que algo corra mal ao ponto do espetáculo não ser bom. “I wish my portuguese was better, but I just want to say thank you. We’ve been looking forward to having some fun with you guys,” antevia o homem de casaco longo e cabelo solto. E assim seria, também a sua variedade de blues marcado a bate pé quaternário exultaria os ânimos do Coliseu.

“Cherry Wine,” seria o momento mais sereno da noite. Uma composição que parece retirada a John Butler, levou o Coliseu ao silêncio enquanto o artista tocava sozinho em palco. Não duraria muito tempo; logo a seguir juntar-se-lhe-ia  o resto da banda e Hozier aproveita para lembrar Suzanne Santo na guitarra.

“You’ve already proved what amazing voices you have,” elogiava os portugueses. “If you know this one sing along.” Meu ditto, meu feito. “Someone New” teria o maior coro até ao momento. Só que do nada, e sem aviso, “Take Me To Church” anuncia-se por meio dos versos à capela “My lover’s got humour.” Houve um pequeno delírio. Okay, foi mais do que isso. É incrível o poder do single que leva tantos blasfemos a cantar “ámen”.

E como se não faltassem provas de que Hozier já faz o que quer, ainda nos faltaria um encore. Foi, em modo de descompressão e uma despedida que se afastava do pico do concerto, mas ouvir “Say My Name” das Destiny Child foi inusitada o suficiente para ser memorável. O concerto termina com “Work Some” – sim, também não sabemos porquê – e um pedido de desculpas. “I’m sorry I can’t stay longer.”

Já somos 2. E as outras centenas levantadas das cadeiras.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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