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A série Narcos da Netflix superou desde o primeiro momento um dos grandes desafios da produção televisiva: como envolver o público ao longo de 10 episódios numa narrativa real e sobejamente conhecida? Todos conhecemos o reino de terror de Pablo Escobar e detalhes da sua queda. Uma figura incontornável da cultura pop, santificado por uma Colômbia caótica e empobrecida, em que toda uma classe social encontra no crime a sua única saída. Desde o primeiro momento, foi com muito suspense bem realizado que nos conquistaram. Afinal, a surpresa não está nos factos mas sim na forma como nos são contados – lição #1 para aspirantes a guionistas.
Quem ainda não viu a 1ª temporada de Narcos deve interromper de imediato a leitura deste artigo e colmatar essa falha grave na sua vida.
A 2ª temporada, que inicia no preciso instante em que se dá a maior caça ao homem na Colômbia, decorre entre meados de 1992 e o final de 1993. Neste Acto da vida de Escobar, em contraposição à primeira parte, olhamos a queda do império que o barão da droga construiu. Os rivais, a família e a própria população são simultaneamente espectadores e actores na trama, assistindo e influenciando o desenrolar da acção. O compadrio e a união de forças inesperadas reforçam o seu papel determinante no mundo, relegando para 2º plano a legalidade das acções quando o objectivo maior é devolver a paz à martirizada Colômbia.
Com uma frieza impressionante, José Padilha mostra-nos a realidade como ela aconteceu. Sabe quando mostrar imagens verídicas e veiculadas pela comunicação social local, para que não pensemos que se trata tudo de liberdade artística sobre biografia de Escobar. Se na 1ª temporada aprendemos a respeitar aquele homem prepotente e sobre-humano, nos 10 novos episódios arriscamo-nos a odiá-lo e a esquecer o carisma que Wagner Moura transpirou nos episódios iniciais.
Uma série viciante e a consumir sem moderação. No início deixei claro que não iria trazer spoilers, mas deixo-vos um docinho para aguçar a curiosidade: Carrillo está de volta.