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Chegou ao fim a residência de Samuel Úria no Auditório Carlos Paredes em Lisboa e já apetece perguntar se não seria possível estender esta sua estadia, na pequena e intimista sala de Benfica, por mais um par de datas? Quem sabe com outros convidados, ou com os mesmos até, ou somente a dupla: Samuel Úria e Miguel Ferreira. Saibam que qualquer destas opções nos deixaria satisfeitos e esperemos que a palheta de Miguel Araújo, troféu que o músico de Tondela exibiu no primeiro dia de concertos e gracejou ter conquistado a muito custo por entre fãs numa primeira fila num concerto do autor de “Os Maridos das Outras”, sirva de talismã para uma maré de concertos de Marcha Atroz, como aconteceu com a mítica residência no Coliseu dessa outra dupla: Araújo e Zambujo.
Após seis dias consecutivos, Samuel Úria segue agora viagem para norte com as duas próximas datas no Porto já também esgotadas. Por aqui deixamos-vos um breve registo de memória escrita do primeiro dia, que foi espécie de “ensaio geral”, e a memória fotográfica do último dia no passado domingo, na doce despedida da capital.
Marcha Atroz, EP editado no final do ano passado, serviu de mote para esta série de concertos. Um pequeno grande EP que já empenhou todo o seu orçamento no “elaborado” cenário de palco, um EP que embora “pequeno” nas suas 4 músicas foi “grande” dentro do melhor que se fez na música portuguesa em 2018. Ao vivo o “rock impopular” de “Ferrugem” corta o osso, sente-se o tacto de “Mãos”, sufoca-se a lágrima que ameaça em “Vem de Novo” e marcha-se com convicção em “Fusão” – mais quatro provas dadas, a somar a toda uma incrível discografia, de que Samuel Úria não encontra par no trato singular que dá à língua de Camões. As suas letras, ou melhor dizendo, os seus poemas, tão facilmente estão ao nosso alcance, como por vezes deslizam para algo abstracto que não estamos seguros de conseguir compreender. É essa luta que mais gozo nos dá, quando de repente nos surpreendemos com algo de novo, até em músicas que julgávamos conhecer bem.
Carga de Ombro, de 2016 mas ainda muito presente, preencheu grande parte do resto do alinhamento da primeira noite que começou com “Dou-me Corda”, seguida de “Aeromoço” essa sentida dedicatória a Bruno Morgado, amigo e companheiro da FlorCaveira. De O Grande Medo do Pequeno Mundo, de 2013, também ouvimos “Essa Voz”, uma polka ao estilo Úria, e “Lenço Enxuto” que mais uma vez nos desarmou, e que nesta noite o ambiente familiar conseguiu tornar num momento ainda mais especial, mesmo sem Manel Cruz.
É aliás o carácter intimista destes concertos preparados para Marcha Atroz que faz a diferença. Recordamos, por exemplo, o épico concerto de 2016 de apresentação de Carga de Ombro, em que banda e um coro imponente encheram o palco do Teatro São Luís, para uma noite perfeita, e ao compararmos ambos concertos, é engraçado perceber como as mesmas músicas, nessa noite cheias de detalhe, instrumentação e talento individual de cada um, agora ali nesta noite despedidas, com apenas com Samuel Úria e Miguel Ferreira em palco, nada se perdeu, e cada uma foi acolhida com a mesma intensidade, aquecendo-nos o coração da mesma maneira. As grandes músicas e os grandes músicos são assim: capazes de emocionar tanto com uma orquestra em palco, como com apenas uma voz e uma guitarra, e Samuel Úria tem um catálogo incrível repleto delas. Músicas que são pedaços de cada um de nós e que queremos ver ao vivo todas as vezes que pudermos.