//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
O hip hop tuga fez história na Altice Arena. Depois do sucesso da primeira edição no Sumol Summer Fest, em 2017, e com o hip hop nacional a crescer a cada ano em público, artistas e popularidade, exigia-se nova edição da História do Hip Hop Tuga, desta vez ainda mais ambiciosa. Foram 4 horas a percorrer um quarto de século de história, desde 1994 até ao presente, num desfilar de velha e nova escolas, onde até quem não marcou presença nem assim ficou esquecido, nos vários momentos entre actuações, em que muitas caras bem conhecidas, por entre outras mais marginais, foram sendo recordadas nos ecrãs em palco, acompanhadas de breves notas introdutórias de uma voz off bastante efusiva.
Uma produção arrojada, que não falhou nem um segundo ao início programado, como vimos num countdown instalado em palco, enquanto procurávamos por um bom lugar para assistir a esta maratona de hip hop nacional, na Altice Arena já bastante composta. Uma produção a pensar não só nos presentes mas também em todos aqueles que em casa de norte a sul do país, ou até mesmo além fronteiras, acompanharam o streaming em directo, que agora também se encontra disponível no YouTube.
General D abriu as hostilidades com “Black Magic Woman”, dando o pontapé de saída para 1994. Seguiram-se os Black Company com “Nadar”, esse clássico que toda a gente conhece e sabe cantar, até aqueles que não eram nascidos à data da edição da compilação Rapública, um dos pilares sobre os quais se ergueu o hip hop tuga. O sentimento de nostalgia instala-se e saltamos directamente para o virar do milénio, momento único para rever ao vivo um outro grande clássico do rap nacional portuense: “Todos Gordos”, dos Mind da Gap, continua a estar-nos na ponta da língua e canta-se com ritmo “outra vez vez sente sente na tua tua mente pe pe rec rec no teu deck deck” – a sério que já passaram 19 anos disto? E mais à frente ainda se iria ouvir também “Bazamos ou Ficamos”.
Poderíamos continuar este texto apenas referindo todos os nomes presentes e omnipresentes celebrados nesta noite histórica para o hip hop tuga que somente isso daria para encher vários parágrafos. Uma noite que se demorou em alguns períodos em particular, como a primeira década do milénio, trazendo Chullage, Boss AC para “Baza, Baza”, Micro com “Respeito”, Dealema da invicta com “A Cena Toda”, Sam The Kid amplamente aplaudido por todos, Mundo Segundo (Dealema), Carlão (gritou-se muito quando o nome Da Weasel surgiu recordado no ecrã, reavivando o desejo partilhado por muitos de ver um dia o colectivo novamente reunido), NBC, Mc Xeg, DJ Glue, Sir Scratch, DJ Nel’Assassin… estão a perceber a ideia certo? Nomes hoje em dia venerados, a representar a velha guarda que há uns anos atrás certamente não sonhava sequer com uma noite assim, Boss AC depois dessa malha indelével – “Hip Hop”, acabaria por se confessar: “14 anos tem esta merda… vocês não imaginam o orgulho que é para nós, que estamos cá desde o dia zero, ver gerações curtir!”.
Gerações que encheram a Altice Arena, sobretudo mais jovens na plateia, que vibraram ainda mais quando os heróis do momento, a nova escola, tomaram o palco. Dillaz, Capicua, Deau, NERVE, Keso, Bispo, GROGNation, Hollyhood, Piruka, ProfJam, Wet Bed Gang, entre outros, causaram histeria na massa jovem, muita dela adolescente, sobretudo quando os últimos nomes subiram a palco.
E o mais interessante desta noite, para além de todas as ovações e merecidas celebrações, foi realmente observar estes contrastes, de público, de artistas, testemunhando ao vivo a forma em como o hip hop tuga divergiu das origens, trilhando caminhos muito distintos ao longo de todos estes anos. Isto não é um fenómeno nacional, claro está, o mesmo tem acontecido no hip hop americano ou britânico, e é isto que torna esta cultura tão diferente de todas as outras, porque poucas têm conseguido ser tão abrangentes, preservando o passado mas sempre com um pé no futuro, onde as diferenças encaixam e enriquecem o bolo, ao invés de separarem águas. E porque cá sente-se um orgulho redobrado disto a que chamamos hip hop, especialmente deste, que é o nosso.