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Dia dois deste Vodafone Paredes de Coura 2019. Sol a rodos, a relva ainda viçosa e fresca, condições óptimas para a prática da modalidade preferida de Coura. Durante a tarde, o tradicional set do glorioso colectivo de eurodance, este ano a contar com saxofone e tote bags à venda.
Apito inicial com os caldenses Cave Story (na fotografia acima), estudiosos das suas próprias influências e sem peias de o mostrar, como demonstraram em Punk Academics (Hatsize; 2018). Esticando-se por entre os The Fall e os Ought, chegaram para dar continuidade ao suadouro de um dia quente.
“Somos uma banda profissional de rock das Caldas da Rainha”, anuncia Gonçalo Formiga; comentário acertado, que competência não lhes falta. Um Tabasco de noise aqui e um acorde punk acolá e o caldo está feito. É como profissional que é profissional sabe as raízes do seu ofício, dedicaram uma canção a Jonathan Richman, santo padroeiro do punk.
No palco Vodafone, uma estreia muito aguardada em terras lusas: Khruangbin, engenho voador em tailandês. O trio texano é uma espécie de Benetton com pernas: guitarrista branco, baterista afro-americano e baixista com ascendência mexicana. Os dois álbuns da banda são um cartão de milhas aéreas (e cronológicas) do neo-psicadelismo e improviso, com Mark Speer a dar um ar de graça melódica vindo de todo o lado: de uns Khun Narin Electric Phin Band a Amadou Bagayoko, passando por Mdou Moctar, Kourosh Yaghmaei e Manitas de Plata.
Parece muita coisa para processar, mas o que ouvimos é um filet mignon para lá de agradável. Uma “Maria También” exemplifica o músculo que a banda ganha ao vivo, com traços de improv e de entrosamento entre os membros – incluindo nas perucas de Speer e Lee.
Não se ficam apenas pelo psicadelismo, que também a funk e o dub marcam presença, ou não estivesse o baixo de Laura Lee no comando em várias malhas. É também ela quem lidera o parlatório com o público, dizendo que Coura cheira bem e com uma chamadinha com um telefone analógico numa Evan Finds The Third Room – pressionámos “1” e voámos pelo universo Khruangbin fora.
Já quase a terminar houve lugar para um medley de Misirlou (bonita homenagem ao recentemente expirado Dick Dale) e Apache dos Shadows. Melhor actuação na categoria de “concerto de fim de tarde” desta edição, tão boa que ainda batemos o pé enquanto escrevemos estas linhas. Coura fez-lhes bem e eles fizeram bem a Coura.
Não há intervalos neste segundo dia e vamos a mata-cavalos para o palco secundário, para assistir a uma Stella Donnelly (fotografia acima) que entrou em substituição de Julien Baker. E saiu-se muitíssimo bem, estabeleça-se.
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Ponto de exclamação num belíssimo concerto de estreia em Portugal. Com o anoitecer, um regresso a Coura: Car Seat Headrest. Depois de um concerto morno (para não dizer chocho) em 2017, Will Toledo voltou para corrigir as falhas que de há dois anos.
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O maior nome desta edição foi inequivocamente o dos New Order. Ausentes do País há catorze anos, são de tal maneira históricos e o autor destas linhas é tão fanático da banda que têm direito a texto próprio.
Leitura obrigatória: New Order em Paredes de Coura »
Se os New Order foram o maior nome do dia, foi aos Capitão Fausto a quem coube fechar o palco principal. Já não são estranhos a esta coisa de terem multidões cantarolando que amanhã ‘tarão melhor – Coliseu de Lisboa cheio, por exemplo – e não se intimidaram perante o maior concerto que deram na carreira.
Muito mais interessantes do que uns Ornatos Violeta (falando em fenómenos de popularidade pouco explicáveis), tiveram um A Invenção do Dia Claro para dar azo a coros da plateia. Não sem antes de The Conquest of Paradise de Vangelis tocar no PA. Guterres! Guterres! Guterres!
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O entusiasmo da banda foi tal que Tomás Wallenstein largou a guitarra e o microfone e foi dar uma surfadela na plateia, que esta noite será para contar aos netos.
Já em tempo de descontos, mais uma boa aposta para o after hours com os Acid Arab, duo francês composto por Guido Minisky e Hervé Carvalho. Muita cor do Médio Oriente e Norte de África e mais uma guinada por mesclas musicais.
Teve-se direito a deep e acid house de braço dado com música tuaregue e libanesa, num belo bota que tem nesse casbah que foi o palco Vodafone FM, num dia em cheio.