//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Novo ano, a mesma rotina. O punk regressa ao RCA, como tantas outras vezes, sem parecer um dia mais velho. De igual modo, os mestres de cerimónia desta noite fria de Janeiro, parecem fintar a idade como um anarquista no meio de um carga policial. Um verdadeiro feito. Os Anti-Flag têm o aspecto que eu acho que os Green Day têm até uma pesquisa no Google Images me corrigir.
A noite começa com Derek do projecto The Homeless Gospel Choir a gritar ao microfone, “I don’t know, it sound shitty!” E realmente soava. O RCA é capaz de não ter sido feito para guitarras acústicas.
Não se fazendo tímido, do alto do palco salta cá para baixo e toca todo o seu set cá em baixo. De música de protesto em música de protesto, o músico que amiúde nos lembrava Jeff Rosenstock cantava sobre depressão, ser um punk numa Pittsburgh fria, e sobre a pedofilia institucionalizada da Igreja. Enfim, o básico, não é?
“Let’s sing this together as new friends,” pedia este amigo. “You’re never gonna be normal, cause you’re a punk.” E o RCA, que, apreensivo ao início com a proximidade e honestidade do artista, cantou a uma voz, rendido ao artista.
Com pressa na saída, é logo rendido pelas Dream Nails, banda que não estou equipado para explicar. Mas aqui vai: uma banda punk, queer, feminista e anti-capitalista, com uma estética girly-girl e logos da NIKE em grande destaque (pelo menos ao vivo). Deixam-me confuso e suponho que seja essa a ideia.
Há que gostar de alguns pormenores interessantes o punk que apresentam. Muitas vezes há a tendência para bandas de mulheres evidenciariam que são tão capazes como os rapazes no jogo “deles,” mas as Dream Nails fazem o seu próprio jogo. A vocalista canta na sua voz aguda e não faz questão de que se saiba se consegue fazer um gutural ou não e os temas que abordam são muito especifico ao universo feminino, particularmente o queer.
O que nos traz a uma questão: onde é que andam os não-binários e até mesmo as mulheres do punk. A comunidade é inclusiva, subscreve todos os apelos à aceitação, mas quando as Dream Nails pediam ao microfone “Women and NB, come to the front,” não houve movimentações no público porque não havia muita gente que coubesse nesse critério. Havia algumas mulheres, mas por acaso já lá estava, à frente. Mas foi confrangedor perceber esta realidade. Particularmente, num meio que se declara feminista. (E é). A música era energética, a movimentação em palco livre de preconceitos e tudo sabia a algodão doce zangado.
Sobravam os Anti-Flag. Nove anos depois da sua última passagem, nesta noite sobravam os punks anarquistas(?) de Pittsburgh que acham que todos os gatos são belos.
O concerto começou com toda a garra com “Christian Nationalist” do álbum mais recente, 20/20 Vision. Diga-se, aliás que os temas mais orelhudos do novo trabalham fizeram todos a viagem para Portugal e convivem em harmonia agressiva com os clássicos.
A piscar o olho à política norte americana Justin Sane e Chris trocavam palavras de ordem com o público que as acolhia como gospel. Gritados ao microfone ou no megafone, mantras revoltosos de união, solidariedade e aceitação eram ecoados e devolvidos em comoção pelo RCA. Turncoats, tornar-se-ia um momento particularmente efusivo.
Circle pits, saltos para a piscina, um ou outro surfista; fez-se o bingo dos concerto punk. O que não se esperava foi o bónus antes dos Anti-Flag dizerem adeus- Em “Die for Your Government” a bateria é colocada no chão do RCA ( com alguma demora, graças a duas jovens em palco absortas do que estava a acontecer) e Chris viria para cima do bomba gritar até lhe faltar o ar. Um momento incrível (mais um, na verdade) para a colecção do espaço Lisboeta.
O concerto termina com toda a gente devidamente suada e bem cheirosa. Os Anti-Flag prometem que não demoram outros noves anos e nós vamos contar os dias para ver se é verdade.