O mediatismo pode até estar a crescer um pouco mais ultimamente, mas Poppy já se tinha dado a conhecer através de alguma música e uns muito estranhos vídeos no YouTube. Dava para entender que era realmente uma personagem muito peculiar, na falta de termo melhor. “I Disagree”, álbum que lhe vai valendo mais atenção, vem fundir o seu antigo lado musical de pop mais doce com a sua adoração pelo metal mais moderno, mantendo a mesma bizarria de sempre. É para dividir e fazer torcer narizes nas populações de ambos os espectros, mas se há coisa que ela sempre foi naquela sua aura mais fora-da-caixa, foi desafiadora.

Com maior exposição após a assinatura de um contrato com a Sumerian e através de colaborações e aparições noutros sítios como a WWE, mais do mundo pode agora começar a conhecê-la, mesmo que não comece já a entendê-la. A fusão do electropop dançável e os riffs musculados carregados de industrial, metalcore ou nu metal trazem, inevitavelmente, um efeito Babymetal a algumas das canções. Até diria que “Concrete” logo a abrir é uma irmã mais nova da “Gimme Chocolate!!”. E se essa abordagem, a gimmick, até mesmo a capa sugerem um relaxamento no que diz respeito à seriedade de tudo, o que mais se deve levar a sério neste enigmático disco é a escrita de canções, com melodias extremamente infecciosas e experimentalismos, tributos e até mudanças surpreendentes – numa só canção ou entre faixas – inteligentes.

Poppy continuará a ser uma figura algo misteriosa – mesmo que agora seja bem mais “humana” do que nos seus antigos breves vídeos no YouTube que lhe deram inicial atenção – e “I Disagree” faz tanto para a legitimar na música pesada e na pop igualmente, como para a lançar aos lobos como uma mera gimmick atractiva a um povo juvenil, sem que realmente entenda ou seja digna de se estabelecer numa “cena” verdadeiramente. Mas se realmente tiverem as Babymetal como guilty pleasure ou estiverem indecisos entre o fanatismo pela pop mais desafiante de Grimes, Billie Eilish ou Melanie Martinez e a admiração pelos actos pesados favoritos de uma juventude hoje adulta como Marilyn Manson, Rammstein, Korn, Slipknot e outros dessa horta, Moriah Pereira, mais conhecida por Poppy, é capaz de ter desencantado aqui o mais ideal e perfeito disco para vocês. Isso e o raio da faixa-título é capaz de ser a canção mais orelhuda e pegajosa que ainda vamos ouvir em toda esta nova década e a isso não se tira mérito.