//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Montanha, a primeira longa metragem de João Salaviza (premiado já em Cannes e Berlin), surge na sequência de duas das suas curtas, Arena (2009) e Rafa (2012), e debruça-se fundamentalmente sobre os anos da juventude, as suas transformações, as novas experiências, a desolação e a isolação a que os jovens se sujeitam.
É o verão, David tem 14 anos, quase 15, como ele diz, vive no oriente lisboeta (o bairro dos Olivais), entre prédios áridos e questões de embaraços sociais e económicos. A mãe volta de Londres porque o avô está muito doente, acabando eventualmente por morrer e esta é a história de uma mão cheia de dias na vida de um jovem que, não fora a presença da mãe e a morte do avô, pelo qual David chora e volta ao estado humano que a adolescência tem tendência a alienar, se assemelhariam a todos os outros dias daquela fase da vida.
Os anos da adolescência surgem como uma fenda da vida do homem, durante os quais as outras idades passam para o outro lado da barricada e a ser vistas como inimigas, como coisas a que fugir e, em último caso, abater. As figuras familiares quase não intervêm e os representantes das instituições públicas, na escola ou no hospital, são eliminados pela câmera. Também os conflitos internos afloram, as amizades são postas à prova, quer por rivalidades amorosas, quer pelo simples ímpeto da reforma revoltosa. O fogo que sacrifica a mota que David e o amigo roubam no início do filme purifica também o estado de independência do homem, que se prepara para o ser, consciente da solidão da sua condição da inconstância das relações humanas, assim como de tudo o resto.
A intenção do realizador fora focar-se no personagem, David, com mais tempo do que o que tivera para Rafa, para lhe ver os movimentos e auscultar o tumulto das ideias, as tentações e a fonte de vida de quem assume não querer nada do futuro a não ser “uma cama e comida”. A montanha da vida parece atingir a maior inclinação por aquela altura, quando todas as sensações e todas as descobertas parecem colossais face ao que viera antes e ao que virá depois.
A penumbra e a escassez dos diálogos orientam-nos para o recanto escondido de David e aumentam a intensidade do seu estado interlúdico. É aqui que o adulto se definirá, em contradição com os adultos que o rodeavam nestes anos e em busca de um futuro diferente do deles, onde as acções sejam mais intimas e veementes e os sentimentos valham mais que as palavras, ao estilo de Rebel Without a Cause, a que Salaviza tanto alude. O esplendor de Montanha não passa tanto pelo desespero activo de James Dean ou pela luz do seu blusão vermelho, mas antes por uma serenidade transversal à performance dos personagens (principalmente de David Mourato, o David, Maria João Pinho, a mãe, e Cheyenne Domingues, a Paulinha), aos sons e aos tons que predominam: o castanho estival e o escuro da noite.