Green Day

Father of All Motherfuckers
2020 | Reprise Records | Punk rock, Pop punk

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Ainda agora estamos no início e 2020 parece já ser ano para surpresas. Com um clima político inacreditável, seria de esperar tudo dos Green Day menos este “Father of All Motherfuckers”. De alguma forma, contiveram-se e trocaram a língua afiada e inspiração política por ritmos dançáveis e experimentalismos pop que nos apresenta uma banda tanto ou mais relaxada que os miúdos amalucados da década de 90. E se calhar a mensagem é mesmo essa: tentar relaxar e não levar as coisas muito a sério.

Father of All…”, como é muitas vezes abreviado em tom de censura, parece comprimir e melhorar a descontracção e abordagem mais directa que os Green Day procuraram na sua trilogia de álbuns de 2012, que podiam ter sido só um. Podiam até ter feito uma nova rock opera anti-Trump e seguir no caminho de “21st Century Breakdown” ou o já clássico “American Idiot” mas lá pensaram… Para quê? A malta também precisa de se divertir e se calhar os Green Day também são apologistas do “less is more”. Em menos de meia hora, disco mais curto da carreira, só querem isso: divertir. Com diversas referências na mistura, há muito de The Clash quando eles mesmos trocaram o punk rebelde pela new wave alegre, – “Graffitia” poderia ser a sua “Rock the Casbah” – há muito rock n’ roll para dançar, – “Stab You in the Heart” deve ser a homenagem dos Green Day ao Elvis e/ou ao surf rock – uma irreverência de Joan Jett, uma inocência de Undertones e, influências mais modernas, sentindo-se imenso da invasão do garage rock do início do milénio de The Hives, The Subways, The Vines, entre outros. Tudo mantendo-se inconfundivelmente Green Day.

Desde a raiz punk mais pura, à influência que tiveram no pop punk mais juvenil do “Dookie” para a frente, sem esquecer o power pop à antiga de “Warning” e a maior ambição para álbuns conceptuais de rock de estádio, os Green Day até podem nem ser banda para todos mas nunca lhes faltou criatividade e honestidade. Que é o que mais abunda neste “Father of All Motherfuckers”. É breve, directo, não deixa de ser experimental com introduções a pop, electrónica e uns falsetes vindos de sabe-se lá onde. E o mais surpreendente que os Green Day poderiam ter lançado em 2020. No seu todo ou em temas individuais é capaz de andar nem perto dos clássicos ou de ser dos mais memoráveis, mas nem preocupado com isso soa. No final, se até os Green Day foram capazes de deixar as politiquices e a raiva de lado, nós também.

Músicas em destaque:

Father of All…, I Was a Teenage Teenager, Junkies on a High

És capaz de gostar também de:

The Clash, Weezer, The Hives


sobre o autor

Christopher Monteiro

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