Today Is the Day

No Good to Anyone
2020 | The End Records, BMG | Noise rock, Sludge metal

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Anteriormente conhecidos por não deixarem o seu público muito tempo à espera, o intervalo de seis anos entre “Animal Mother” e este novo álbum tornou “No Good to Anyone” bastante ansiado. Não só isso, como também o período negro que Steve Austin, mentor do projecto, viveu nos tempos que antecederam este lançamento nos deixou curiosos por saber como faria ele soar essas emoções.

Um acidente rodoviário quase fatal, uma doença cujo tratamento o ia prejudicando mais, a perda de um cão. Uma fase muito conturbada, muito negrume para ser abordado por um projecto já tão vanguardista e focado no lado menos alegre da vida. É aí que está a surpresa: podia ser uma descarga frenética, uma chinfrineira matemática, uma explosão, descarga de energia. Mas este é o Steve Austin maduro, pai de família, que já passou por tudo. Ao mesmo tempo também está consciente da sua posição pioneira no noise rock e nos formatos mais ruidosos e lamacentos da música extrema. “No Good to Anyone” soa mais brando, deixa-se arrastar um pouco, com passagens lentas, não é tão odioso, é quase mais acessível – recorrendo ao “quase” para suavizar o palavrão. Mas não é menos pesado, até pelo contrário, os riffs que se ouvem aqui são uns senhores brutamontes que acompanham as melodias vocais de Austin, resultando no trabalho mais sludge que se possa encontrar no já barulhento repertório.

Um tal arrasto que se possa assemelhar a alguns trabalhos dos Melvins e com um Steve Austin em contacto mais directo com o seu lado emocional. Não deixa de haver escárnio q.b., que títulos como “Burn in Hell” ou “You’re All Gonna Die” não deixam enganar. Mas há muito espaço para a melancolia, como no interlúdio de piano tocado pelo filho adolescente ou “Callie,” balada dedicada ao cão, que tocará qualquer ouvinte que tenha perdido um parente de quatro patas. As duas facetas convivem, não se chegam a sobrepor uma à outra, temos pausas para respirar, temos espasmos enérgicos quando a coisa volta a acelerar. No fim, o que se tira de “No Good to Anyone” é Today Is the Day. Um Steve Austin sempre imprevisível, igual a si próprio e uns passos à frente de muita concorrência e do que muitos fãs estão à espera. É diferente mas é familiar. E maus álbuns é coisa que o Sr. Austin ainda não deve saber fazer, nem de propósito.

Músicas em destaque:

No Good to Anyone, You’re All Gonna Die, Callie

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Melvins, Mastodon, Unsane


sobre o autor

Christopher Monteiro

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