No meio de todas as coisas estranhas que possam acontecer em 2020, haja algo bom para separar sempre. Como o improvável regresso dos Mr. Bungle, ao que parecia, aos palcos para aparições limitadas. Mas como falamos de um ano tão sacana como este, tal não se pôde concretizar, mas peguem lá a outra metade do plano: “The Raging Wrath of the Easter Bunny Demo” aqui para nos partir tudo.

O conhecido primeiro projecto já nascido na adolescêndia de Mike Patton já é, por si, uma banda estranha, foi assim que conquistou adoração. Porém regressam tão simples e brutos como nos seus primórdios. E com Dave Lombardo e Scott Ian no alinhamento, aí está a estranheza que parecia essencial à equação. Por acaso não há cá fusões de funk, rock, swing, ska, doo wop, electrónica, death metal, jazz e mais qualquer coisa que eles fizessem caber, tudo o que aqui está é thrash metal furioso, vindo da década de 80 quando se começou a casar com o hardcore para injectar anda mais fúria num estilo já tão desenfreado como era. E não é por acaso, vem mesmo directamente daqueles tempos. Para esta prenda os Mr. Bungle foram ao baú e recuperaram a sua demo de 1986 para regravar e adaptá-la aos dias de hoje com melhor produção, nova roupagem, perfeita adaptação à actualidade, algumas novidades e classificável como um novo disco muito diferente do habitual de uma banda… Que sempre foi impossível de classificar, de qualquer forma. E, com tempos tão loucos como estes, pouca coisa cairia melhor agora nos nossos organismos do que este estrondoso disco.

Pronto, pode não ser aquele desafio cerebral de esquizofrenia e transição entre géneros, como os três anteriores discos da banda de berço de Patton nos habituou. Mas a descarga enérgica é semelhante e nem assim se deixa de ouvir aqui “La Cucaracha” na transição de “Hypocrites” para “Habla Español o Muere.” A prestação vocal de Patton também não deixa nenhum fã defraudado com berraria e aqueles singulares guinchos de demónio não estão aqui em falta. 2020 é um ano tão tramado que nos quiseram trazer novamente 1986, quiçá se estivesse melhor por aí quando este género estava ainda a brotar. Sim, porque aí se nota a influência: tivesse este “The Raging Wrath of the Easter Bunny” visto uma edição a sério na altura e hoje listaríamos os Mr. Bungle ao lado de nomes como D.R.I. e Suicidal Tendencies ou S.O.D. e Corrosion of Conformity – aqui homenageados com covers de “Habla Español o Muere” e “Loss for Words,” respectivamente – na hora de listar os pioneiros do tal crossover. E com uns Dead Cross ainda tão recentes, queremos nós entrar nos nossos cinquentas com a mesma pica que gajos como o Mike Patton ou o Dave Lombardo.