Artillery

X
2021 | Metal Blade Records | Heavy/thrash metal

Partilha com os teus amigos

Temos sempre estranhos hábitos nestes pequenos textos, formas de falar e classificar as coisas que se calhar nunca as aplicamos no dia-a-dia, no nosso consumo quotidiano de música. Como dividir actos por divisões como se das ligas de futebol se tratasse. E entrando por aí, realmente parece que nunca deu para subir os Dinamarqueses Artillery da segunda divisão do thrash metal. Se, com os três primeiros grandes álbuns, será por injustiça e subvalorização, com os Artillery pós-segunda reunião já será mesmo por não apresentarem nada que o justifique e por já andarem a parecer querer mudar de modalidade – para a segunda liga do power metal?

Seguindo acontecimentos trágicos como a morte de um dos irmãos Stützer, guitarrista e peça central da formação da banda que também já teve inúmeras mudanças de elenco, se calhar muitos esperariam e talvez até preferissem que pendurassem as botas e deixassem o legado. Apresentarem o décimo álbum com um título tão imaginativo como “X” se calhar também não era grande presságio. Na verdade, avançando logo para o apanhado final… Até é o melhor disco que lançam em anos, talvez o melhor desde os clássicos, o melhor que já gravaram com outro vocalista que não Flemming Rönsdorf. Não é obra de trazer novos ares e uma renovada apresentação dos Artillery para uma nova geração e dar-lhes outra relevância, mas o mais satisfatório para os fãs que queriam algo disto há bastante tempo, especialmente como seguimento a “The Face of Fear,” álbum no qual praticamente se renderam totalmente aos tiques do power metal e quase viraram os Dream Evil.

Se o que mais ordena no thrash metal de categoria é o riff, “X” tem-no com fartura. É o que manda, é o que puxa e é o que segura. Uma fúria aguçada de quem possa ter utilizado os recentes acontecimentos trágicos para reflectir e, em tom de homenagem, rasgar como nos tempos antigos. “X” é uma chamada nostálgica ao “By Inheritance” mas sem recriações a meio gás, foi mesmo a energia que foram buscar lá atrás para que o disco tivesse aquele veneno do thrash dos 80s de início ao fim, sem medo de um breakdown maldoso como o de “Silver Cross.” Contudo, foram buscar muita coisa ao passado mas não o vocalista Flemming, a voz ainda está a cargo de Michael Dahl, que anda a vociferar os álbuns mais voltados para o heavy/power da última década. Logo a voz ainda levará para campos mais épicos e agudos do power metal. Se o problema for hábito, então também se consegue depressa, com um sentido apurado para a melodia – que sempre tiveram – a lembrar uns velhos Anthrax ou alguma banda de heavy inspirado por Iron Maiden mas com mais pelo na benta – como na baladeira “The Ghost of Me.” Se não dá mesmo para descolar o rótulo “power” de cima do “thrash” sem lhe deixar aqueles vestígios chatos, então dá para abraçá-lo como tal e compará-lo a um bom disco dos Helstar. Que Dahl seja um acquired taste, nada a fazer, mas isto é o mais furioso e pesado que os Artillery soam em anos. “In Thrash We Trust,” dizem eles. Parece que, nas mãos deles, nós também já confiamos novamente!

Músicas em destaque:

In Thrash We Trust, Silver Cross, In Your Mind

És capaz de gostar também de:

Anthrax, Onslaught, Dark Angel


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos